quarta-feira, dezembro 20, 2006

FESTAS FELIZES!


> ABC, Estrelas de Natal, Acrílico sobre tela, Novembro de 2006
Para todos Festas Felizes e...
... um excelente 2007!
Já agora um pouco de publicidade, aproveitei o ensejo para publicar aqui mais uma das minhas obras-de-arte.
Espero que gostem.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Uma questão de coragem



> tirado da net

É engraçado (não tem graça nenhuma, mas enfim), mas até para se ser feliz é preciso coragem!
O que mais me revolta é a existência de pessoas que não têm coragem para ir ao encontro da felicidade.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Só...



www.pbase.com/terberg/image/53355852

Mais vale só do que mal acompanhado, do que rodeado de pretensos amigos que só o “são” se vivermos de acordo com as suas regras e que nos dizem “se te deres mal não venhas bater-me à porta a chorar”.
Sozinho mas com amigos espalhados pelo país, aos quais aceito sem condições, sem os criticar agora e os bajular depois, sem os reprimir com atitudes de queen of the gang, sem os julgar porque têm filhos para criar e por isso estão mais condicionados, ou porque são de partido político diferente e por isso são imediatamente apelidados de burgueses, incultos ou fascistas, ou porque são despudorados, ou porque são simplesmente o espelho daquilo que já fomos e queremos a todo o custo esquecer, que não toleram diversidade quando passam o tempo a apregoar a tolerância.
Sozinho mas dedicado, de agora em diante, aos que me amam de verdade.
E quem vier, que venha por bem.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Há sempre uma coisa sacrificada para que outra possa existir…



> fusão de http://hometown.aol.com/ e http://www.onecomeats.com/images/steaks.jpg

Aquela manta e aqueles farrapos pendurados num prego fediam a bedum, a leite e a sangue. Estes sapatos de boca aberta., aos pés da cama, acabavam de mexer-se com o bafo de um boi estendido na erva e, no sebo com que o sapateiro os engraxara, grunhia um porco sangrado até à última gota. Por toda a parte havia morte violenta, tal como num matadouro ou num recinto patibular. Um pato degolado grasnava na pena que iria servir para traçar em velhos pergaminhos ideias julgadas dignas de perdurar para sempre.

(Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro, Col. Mil Folhas, Público, 2002, p. 165).

Uma lágrima trocada,
Por não te ter a meu lado,
Uma decisão tomada,
Com o coração embargado.

Por desistir de lutar,
Por ti que escapas,
Por me deixar ir,
Ao encontro de alguém,
Que me queira bem!

sexta-feira, novembro 24, 2006

A prenda que José iria receber...



> imagem adaptada do site www.schleich-s.de

Estes três gatinhos são fotografias daqueles que o Jorge comprou naquela tarde soalheira de Outono, com uma alegria de criança, para dar a José, um apaixonado dos felinos domésticos…

quinta-feira, novembro 23, 2006

Absolument Fabuleux...



www.bacfilms.com/fichedvd.php?id=74

No dia 11 de Novembro, dia de São Martinho, assisti ao filme Absolument Fabuleux, recriação cinematográfica francesa da responsabilidade do realizador Gabriel Aghion, e em que as britânicas Patsy Stone (Joanna Lumley) e Eddy (Jennifer Saunders) surgem como Patsy Laroche (Nathalie Baye) e Eddie (Josiane Balasko). Não se ficam atrás no humor e nas excelentes interpretações, e nas peripécias rocambolescas regadas de muito champagne e cocaína, numa clara decadência urbana de mulheres que pararam nos 70, mas com um enorme glamour e vanguardismo apoiado no excelente guarda-roupa de Jean-Paul Gaultier.
Devo uma excelente noite a uma pessoa muito especial para mim, absolutamente fabulosa, independentemente das imperfeições que a caracterizem e fragilizem.
Absolutamente Fabulosa foi toda essa tarde e toda essa noite, onde o nervosismo foi lentamente abrindo portas ao carinho, à ternura, ao amor.
Saudades, saudades de dias como aqueles, sim, são muitas!

Vontade de ir...


Se pudesse fazia uma mochila com pouca roupa e ía embora, pelo Mundo, sem destino...

segunda-feira, novembro 20, 2006

As palavras são enganadoras...


www.futsal0304.blogger.com.br

As palavras enganadoras proliferam infelizmente, porque cada vez mais são ditas sem sentimento, sem significado coincidente com a acção, ou no intuito de convencer determinado indivíduo pela fraude, a agarrar uma determinada causa.
Mais doloroso é não acreditarem nas nossas palavras quando elas são sentidas, quando reflectem o que realmente sentimos, e preferem cercear-nos, controlar-nos, castrar-nos os sentimentos, em nome de uma calma necessária para que as coisas possam correr bem.
Ainda mais dolorosas e enganadoras são quando nos encantam de forma grandiosa e sublime, encorajando-nos a continuar a acreditar nas boas intenções de alguns seres humanos, nas verdadeiras aspirações de carinho, de amor, de partilha, de actos de lealdade, de sinceridade e de coragem para serem e fazerem outros seres humanos felizes, quando depois nos apercebemos que tudo foi em vão.
Mais dolorosas ainda quando são omitidas, e não nos matam a sede de ouvir algumas delas, pela saudade, pela necessidade de conforto.
O ser humano está cada vez mais de costas voltadas para o seu próximo, cada vez mais se notabiliza pela mediocridade, e isso faz-me carregar um grande e cansado lamento interior.
Por isto tudo, mais uma vez me socorri de uma senhora da literatura mundial que escreveu:

Desde Adão até hoje, poucos bípedes têm havido merecedores do nome de homem.

(Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro, col. Mil Folhas, PUBLICO, 2002, p. 104).

Elas, as palavras, só são enganadoras se forem ditas em consciência plena de que o são. Mesmo que um dia possam ser deitadas por terra, no momento em que são ditas, muitas delas espelham de facto o que se passa no âmago de alguém.
Eu continuo a acreditar nas palavras… de algumas pessoas!

domingo, novembro 19, 2006

Surpresa abortada...



> Praia de Altura, tarde de 19 de Novembro de 2006.

Quando uma pessoa pensa que consegue mudar, tornar-se mais dura de coração e deixar de fazer “loucuras” dedicadas ao amor, eis que percebemos que não vale a pena deixar de o fazer, ainda que essas novas loucuras, revestidas do efeito surpresa, abortem por completo, mais e mais uma vez, e que depois de sentirmos a frustração e de nos olharmos ao espelho e nos chamarmos de “burros”, temos a sensação de que não deixaremos de o fazer, porque não é uma questão de burrice, é uma questão de esperança, de acreditar que vale a pena lutar por aquilo em que acreditamos, de acreditar que existem pessoas capazes de dizer “quero ser feliz, e para ser feliz preciso de fazer alguém feliz”, capazes de dizer “quero partilhar a minha vida com uma pessoa”, capazes de assumir que há pessoas que lhes querem bem e de não as esconderem dos pais ou das mães.
Não é uma questão de burrice, é uma questão de vontade de partilhar, de amar, de corajosamente enfrentar este mundo e o outro para ser feliz, doa a quem doer.

Num dia de Outono soalheiro, um amigo meu chamado Jorge, de 32 anos, levantou-se cheio de energia, com o coração a transbordar de paixão e de amor e pensou:
- Já que não vem ele até mim, porque não fazer-lhe uma surpresa?
Tratava-se de fazer mais de uma centena de quilómetros para visitar José, de 34 anos, independente, e o homem que preenchia o coração de Jorge.
Jorge enfiou-se no seu carro e meteu-se à estrada, com intenção de passar pelo Shopping de Faro para comprar uma lembrança a José, uma pequena lembrança mas que aos olhos de Jorge eram a cara de José.
Chegado junto à casa de José, em Altura, Jorge reparou que José não estava em casa e resolveu fazer uma chamada telefónica a José, avisando-o de que estava à sua porta. Jorge sabia que José devia estar a almoçar em casa da mãe, por isso resolveu, já cheio de fome ir a um snack-bar chamado Bela Praia, comer uma sandes mista e uma Pepsi.
Entretanto, enquanto esperava pelo parco almoço, Jorge insiste em ligar a José para o avisar que estava à sua espera, mas José continuava a não atender.
Foi aí que Jorge começou a pensar.
- Ele não me atende porque está com a mãe. Ele tem medo de falar comigo ao pé da mãe.
Mas continuou a afastar esse temor, por mais algum tempo, e lá comeu a sua sandes mista, bebeu a sua Pepsi e rematou com um café cheio, como sempre costuma beber.
Depois de pagar e de se dirigir para o carro voltou a ligar a José e mais uma vez não obteve resposta. Ainda assim, meteu as chaves na ignição e voltou à casa de José com uma ligeira esperança de encontrar o seu carro já estacionado naquela casa de sonho onde tudo tem um significado especial. Mas o carro de José ainda não estava e mais uma vez o telefone tenta avisar José da surpresa que, caso ele atendesse, passaria só a ser meia-surpresa. Mas urgia avisar José para afastar a possibilidade de o mesmo chegar na companhia da mãe.
É então que Jorge recebe uma mensagem sms de José a dizer: - Eu tou com a minha mãe. Fui buscá-la ao trabalho. Falamos mais tarde, ok?
Nesta situação Jorge sente necessidade de avisar José que estava junto da sua casa e responde-lhe com um sms: - Eu estou à tua porta.
Rapidamente vem a resposta de José, via sms, dizendo: - Mas eu tenho que ir a minha casa com a minha mãe. E agora? Que situação!.
Jorge, já ligeiramente abananado com a surpresa por ter descoberto que o independente José, pelo menos em relação à mãe não tinha independência nenhuma, responde, via sms: “Eu estou na praia, neste momento!”
Já na praia, andando contra o sol, Jorge recebe finalmente uma chamada de José. Este muito aflito e atrapalhado dizia: - mas tu não disseste nada!
Jorge replicou dizendo: - Eu tentei, mas tu nunca atendeste!
José respondeu: “Eu não posso estar contigo, estou com a minha mãe, vou às compras com ela e não a posso deixar sozinha”.
Jorge ainda pediu a José para vir ter com ele só um bocado, para receber a prenda que tinha sido comprada para ele com muito carinho.
José voltou a dizer que não podia, que logo Jorge lha daria noutro dia.
Decididamente, Jorge tem que estar triste, porque nem que fosse por cinco minutos, gostava de ter olhado para a cara de José e de lhe ter dito o quanto gostava dele, o quanto pensava nele e o quanto tinha sido importante para si comprar-lhe aquela lembrança.

terça-feira, novembro 07, 2006

Fase Pictórica...




> ABC, Girassóis, acrílico sobre tela, 5 de Novembro de 2006.

Ando um bocado afoito às escritas, porque tenho andado voltado para a pintura, para os rabiscos caseiros com que vou decorando a minha casa.
Goste-se ou não, são meus, do meu suor, e sempre dão um toque pessoal à minha casa.
Da fase floral, por agora suspensa, eis aqui a minha última obra-prima... lol

quinta-feira, outubro 12, 2006

Beleza, o que é?


> imagem de http://www.stampede-entertainment.com

Era uma vez um humano lindo que vivia sozinho porque não conseguia, de momento, viver com mais ninguém, obrigando-se a aprender a saber estar por sua conta.
Era outro mais lindo ainda que vivia infeliz porque pensava que estava sozinho no mundo, e isto porque ninguém o desafiava, sequer, para tomar uma cerveja no café do bairro.
Outro belíssimo que passava os dias entretido nas suas coisas para esquecer a solidão que lhe rondava o espírito, mas que dificilmente o conseguia abater, porque ele estava já calejado.
Um que tinha tudo, uma carreira brilhante, amigos lindos como ele, francos, leais e ternos, que vivia desesperado porque pensava que o amor verdadeiro não era para ele.
Outro sex-symbol que se anulava todos os dias, mais e mais, porque com tanta carência, servia de objecto sexual e, depois de satisfeito o prazer da carne, mergulhava numa intensa auto-comiseração.
Um ainda, cheio de charme, que por querer ser aceite socialmente resolveu fazer família mergulhando num ciclo vicioso de hipocrisia e sofrimento.
Outro, inteligente, ex-engatatão, que no meio de tanta alegria casou, procriou e se apagou nas malhas do convencional.
Outro mega-resistente que trabalhava, trabalhava, trabalhava, porque via no trabalho a fonte do esquecimento das suas fraquezas.
Um dandy que se pavoneava e humilhava os outros porque não conseguia sequer olhar para si próprio.

Sonhava por fim, um extraterrestre horrendo, com um mundo onde a partilha, o convívio, a brincadeira colectiva, o amor, o respeito, a coragem, a diferença, o equilíbrio e a humildade seriam os valores da Humanidade.

sábado, outubro 07, 2006

Grita Liberdade



> imagem do site http://prisonersoverseas.com/wp-content/SLAVERY.jpg

Há bem pouco tempo senti-me estranhamente livre e agradavelmente diferente de uma série de pessoas, que estimo não porque tenham muito a ver com a minha maneira de ser, mas porque no passado foram importantes para mim, para o meu crescimento, porque contribuiram para fazer de mim aquilo que eu sou e para descobrir que jamais poderia ser como elas eram, quase que humanos clonados que agem e pensam como se lhes tivesse sido inscrito no âmago um guião de comportamentos, e na pele um guarda-roupa uniforme. Mas o melhor de tudo, é que na mesma ocasião, descobri que havia alguns desses meus amigos que pensaram e se sentiram como eu.

Por tudo isto, e por assentar que nem uma luva, mais uma vez encontrei uma frase nas Memórias de Adriano, da Marguerite Yourcenar, que passo a transcrever:

Prefiro ainda a nossa escravidão de facto a esta servidão do espírito ou da imaginação.
(Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, Ulisseia, 2005, p. 93).

(Re)nascimento


> Leonardo da Vinci, Study of a Womb, c. 1489, in http://www.visi.com/~reuteler/vinci/womb.jpg

O verdadeiro lugar do nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente sobre si mesmo.
(Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, Ulisseia, 2005, p. 34)
Esta frase suscitou a minha atenção e fez-me esboçar um sorriso, porque posso dizer que (re)nasci, aqui, onde vivo, sozinho. Aqui, onde pela primeira vez aprendi a olhar de frente a mim mesmo, onde sem desviar a atenção de mim próprio, me vou conhecendo, desvendando e amando.

segunda-feira, setembro 18, 2006

Outro sem inspiração...


Alguns bloguistas amigos que me perdoem, mas não posso deixar de fazer este post um tanto ou quanto plagiado.
Mas o problema é mesmo esse, falta-me também inspiração.
Será algum novo síndroma da inspiração defeituosa adquirida?

terça-feira, agosto 29, 2006

O mérito não é hereditário...


imagem do site www.eca.usp.br/.../njr/voxscientiae/edith31.html

- É verdade que, nas ordenações de Março, pretendeis instalar Nicéforo como bispo de Trevi?
- É.
- O homem é um grego! – Protestou Daniel.
- E isso que interessa?
- Uma posição tão importante tem de ser para um romano.
Joana suspirou. Era verdade que os seus predecessores tinham utilizado o episcopado como instrumento político, distribuindo bispados entre as famílias romanas, como tesouros escolhidos. Joana discordava com esta prática porque tinha resultado numa grande quantidade de episcopi agraphici – bispos iletrados, que tinham espalhado todo o tipo de ignorância e superstições. Afinal, como é que um bispo podia interpretar correctamente a palavra de Deus para o seu rebanho, se nem sequer era capaz de a ler?
- Uma posição tão importante – respondeu ela, calmamente – deve ser para a pessoa mais qualificada. Nicéforo é um homem culto e piedoso, será um óptimo bispo.
- É natural que assim penseis, uma vez que sois estrangeiro.
Daniel utilizou deliberadamente o termo barbarus, e não o termo peregrinus, mais neutro.
Os outros ficaram manifestamente incomodados.
Joana fitou Daniel directamente nos olhos.
- Isto não tem nada que ver com Nicéforo – replicou ela. – Sois guiados por motivos egoístas, Daniel, pois quereis que o vosso próprio filho, Pedro, seja bispo.
- E por que não? – indagou Daniel, num tom defensivo. – Pedro é mais adequado para o lugar em virtude da família e do nascimento.
- Mas não por capacidade – ripostou Joana num tom seco.


Donna Woolfolk Cross, A Papisa Joana, Editorial Presença, Lisboa, 2000, p. 416

Ultimamente tenho conhecido pessoas que vivem agarradas à ilusão de que valem muito por serem de determinada cor política, por conhecerem uma mão cheia de pessoas influentes devido à cor do dinheiro e, alegadamente, à tradição familiar do berço de oiro.
De facto essas pessoas safam-se muito bem, e vivem bem porque conseguem de forma imediata abraçar a materialidade que as estimula para saírem do vazio que encontram em casa, nas suas vidas.
E o mérito senhores, onde fica o mérito? Será que o mérito é das pessoas que por serem filhas de A ou de B, por serem amigas de X ou de Y, conseguiram uma boa posição profissional e reconhecimento em determinada actividade?
Não será o mérito antes o fruto do trabalho, dedicação, esforço por atingirmos, por nós próprios, um lugar ao sol?
O problema é que este mérito não interessa nada, muitas vezes…E o sol continua a brilhar sobretudo para os Pedros e os Danieis a que o excerto da Papisa Joana faz alusão.

domingo, agosto 27, 2006

Felicidades Relativas


> imagem do site http://www.rejesus.co.uk/spirituality/happiness/25smiles.jpg

Será que ele iria ser feliz? Joana esperava que sim. Mas parecia ser um homem fadado para desejar sempre aquilo que não podia ter, para escolher para si próprio o caminho mais pedregoso e mais difícil. Ela iria rezar por ele, assim como por todas as outras almas tristes e atribuladas que tinham de percorrer sozinhas o caminho das suas vidas.

in Donna Woolfolk Cross, A Papisa Joana, Editorial Presença, Lisboa, 2000, p. 217.

Às vezes eu próprio penso que sou propenso a esperar demais da vida. Mas também já vou aprendendo a ser mais conformista.
Às vezes penso que a vida é injusta para mim, mas quando penso que há tanta gente que passa fome no mundo… tanta gente pobre de espírito, tanta gente que tem dinheiro mas que não tem como gastá-lo ou que tem tantos amigos por conveniência, tanta gente casada mas que vive uma mentira… tanta gente infeliz pelas mais variadas coisas… esboço um sorriso de agradecimento.
Penso também que a insatisfação é muitas vezes um processo pelo qual todos passamos, e com o crescimento interior se vai esbatendo ou pelo menos racionalizando.
Algumas vezes a insatisfação é positiva, sobretudo se for sinónimo de ambição, de vontade de ser sempre melhor, de conseguir atingir objectivos que se prendem com a nossa felicidade, sem no entanto esbarrar com a felicidade de terceiros.
A minha felicidade passa por estar bem comigo mesmo, se passa por um dia descobrir uma pessoa que partilhe uma existência comigo, isso já não sei…O que vier virá! E que venha por bem!

domingo, agosto 06, 2006

Vazios necessários...


> Meditation on Emptiness, by Brigid Marlin, Miche Technique, in www.brigidmarlin.com

É "engraçado" como a aparência da plenitude muitas vezes nos encobre a necessidade que temos de sentir na pele a dor, o luto, a solidão, o vazio, a vontade de nos encontrarmos a nós mesmos e, finalmente, a disponibilidade para nos deixarmos sentir verdadeiramente plenos…

terça-feira, agosto 01, 2006

Onde é que pára a Polícia?



> imagem do site http://www.gms.lu/~riesm/portug2.jpg, adaptada por mim

Onde é que pára a Polícia?

Ainda agora começou Agosto e, depois de sair do meu trabalho, de me enfiar no carro para regressar a casa e atravessar a “semaforizada” Avenida dos Descobrimentos, já assisti a tanta contra-ordenação no tráfego que perguntei, deveras irritado, “ONDE É QUE PÁRA A POLÍCIA?”.

Onde, podem dizer-me onde?

quarta-feira, julho 26, 2006

Futuro do Amor


> Bonneville Savoy, de William Turner, retirado do site www.geocities.com/uttamkumar44/turner.html

Um beijo roubado,
Um olhar sorridente,
Um abraço apertado,
Uma mão assente,
Em tuas pernas,
Morenas, escuras,
Trementes,
Maduras.

Enlaço tuas mãos,
Contigo em meus braços,
Adivinho teus traços,
De anos passados,
Apáticos, cinzentos,
De vida adiada,
Alugada,
Em espaventos.

Roubei-te sorrisos,
Olhares de atenção,
Perdi-me em juízos,
Com frustração,
Julguei-te perdido,
Nas malhas do mundo,
Do mundo fecundo,
Em interesse crescido.

Com força lutei,
Estóico aguentei,
Com ciúmes alimentados,
Me enchi de cuidados,
Reagi com pecados,
Sonhados, vividos,
Empedernidos,
De mágoa contida,
Por vezes sonora,
De ave canora.

Aflita de dor,
Minh’alma voou,
Em ti pousou,
Para viver,
De novo aprender,
A amar,
Cultivando devagar,
O que não consegui,
Anteriormente,
Alcançar.

Começar de novo,
Com calma, sereno,
Sem doce veneno,
Namorando,
Saboreando momentos,
Únicos, sem tormentos,
Sem pressas,
Sem cobranças minhas,
Tuas e deles.

Sobretudo deles,
Que não deixavam,
Apartar-nos para sentir,
Para repartir momentos,
De dois,
Não de três,
Ou quatro,
De uma vez.

Viver para mim,
Preciso viver para mim,
Saber chorar sozinho,
Rir e resmungar,
Sem audiências,
Falhar sem condolências,
Para me encontrar,
Para te encontrar,
E saber desejar.

Amar cada bocado,
Que esteja a teu lado,
Sem me massacrar,
Por ter terminado,
Sem sofrer antes,
Do momento em que partes.
Sem ansiar dolorosamente,
O teu regresso,
É isto que peço.

quinta-feira, julho 20, 2006

THE END...


> Road to nowhere, foto de Willie Holdman, tirada do site www.willieholdman.com

Há dias em que temos muita necessidade de soltar cá para fora alguns sentimentos e escrevê-los no papel, mas normalmente esses dias, não aqueles em que escrevemos porque queremos, mas sim em que escrevemos porque precisamos, são também aqueles em que por muitas e variadas razões nos socorremos das coisas mais banais porque não temos muita energia intelectual para escrever o que é da nossa própria pena.

Eu socorri-me de versos da canção da cantora branca com voz de preta (sem qualquer sentido pejorativo, porque a adoro e porque os pretos são excelentes como os brancos e péssimos como eles) que anda nas bocas do mundo e nos entra, em qualquer parte, pela vida adentro. Falo da Anastacia e da primeira música que a lançou para a ribalta. O refrão é da música I’m Outta Love, e diz isto:

I’m outta love set me free
And let me out this misery
Show me the way
To get my life again
Cuz you can’t handle me
Said I’m outta love can’t you see
Baby that you gotta set me free
I’m outta love


Nem sei ao certo se é o refrão adequado relativamente ao que estou a sentir neste momento, mas pelo menos é alguma coisa parecida, mais não seja pelo facto de ter tomado uma posição corajosa, independentemente de ter ou não sido fácil de tomar ou a certa. Mas acho que sim.
Nem sei ao certo o que estou a sentir. Talvez alívio, talvez medo, ao certo eu sei que estou em paz, com a consciência tranquila porque ninguém foi enganado, porque ninguém fez mais, simplesmente porque não podia, simplesmente porque não mandamos nos nossos sentimentos, nas nossas emoções…

terça-feira, julho 18, 2006

NO HORIZONTE...


> Diáfano Horizonte, foto de Cristina Corradini, in www.chaco.gov.ar/cultura/medios

No horizonte vislumbro desejos,
De um porvir melodioso,
Em que te cubro de beijos,
Num abraço caloroso.

De ternura se enche,
A esperança de escaparmos,
Preenchida,
Na lembrança de ficarmos,
Lado a lado,
Num conforto almejado,
Em que tu aninhas,
Teu rosto em meu peito,
Naquele jeito,
Que adivinhas.

Por estares a mim ligado,
De um modo superior,
A dormir e acordado,
No recanto do fulgor,
Do risco que se abate,
No pecado infantil,
No eterno debate,
De traição varonil.

Ao norte meu olhar,
Se eleva para Ti,
Meu ser a acalentar,
Esse corpo etéreo,
Que por si,
Quebra mistério,
Que por mim,
É beijado,
Que por mim,
Em pecado,
É amado,
Olhado.
Apalpado.
Enlaçado.

Dos regulares amantes,
Não sei que será,
Se de um beijo antes,
Não passará,
Um beijo imaterial,
Feito por intenções,
Ou se de um amor carnal,
Lavrado em acções.
O que vier virá,
Nos meandros do futuro,
Que palavras não há,
Para dizer que te juro,
Estar sempre aqui,
Ou ir para longe.

Não interessa o que vem,
Ou se te aproxima,
Viver cada dia,
Na doce chacina,
De palavras amáveis,
Com que me cobres,
Me descobres,
É meu lema,
Este tema,
De amor.

quinta-feira, julho 13, 2006

Marégrafos


> Foto de Pedro Calheiros, retirada do site www.trekearth.com

Águas revoltas,
Marégrafos atentos,
Niveladas, envoltas,
Em tantos tormentos,
Subindo, descendo,
Pela terra que gravita,
Ao sol e à lua,
Meu ser que medita,
Minha pele nua.

Roçando n’areia,
Vendo silhuetas,
Corpos de sereia,
São estatuetas.
Cheias de ilusão,
Perdidas em buscas,
E em tentação,
Que tu me ofuscas.

Sorriso gentil,
Palavras meigas,
Calor febril,
Enchendo taleigas,
De suor ácido,
Tesão pueril,
Num corpo já flácido,
Já não juvenil.

Dos jovens amantes,
Que mergulham,
Corpos flutuantes,
Se atulham,
De beijos molhados,
Em risos rasgados,
De fortes abraços,
Que borbulham.

Águas oscilantes,
Que marégrafos medem,
Agora como antes,
Em que amores sucedem.
E vós oceanos,
Em brumas envoltos,
Lavam desenganos,
E castigos soltos.

quarta-feira, julho 12, 2006

Liberta... de ti!


> Foto retirada do site www.beachchamber.com

Liberta de ti se afasta,
Minh’alma que voa mais longe,
Nas asas de desejo de um monge,
Como se fora casta.

Não estou aqui, já,
Fui para parte incerta,
Alma aberta,
Contra medos que vá,

Buscar um rosto,
Uma pele, um abraço,
O calor noutro regaço,
Um aroma de mosto.

De vinho que te bebo,
Meu belo e jovem efebo,
Que roubaste minh’alma,
Com muita, muita calma.

Ao outro que a tinha,
Não serei bom,
Tão pouco será minha,
A ira da voz, naquele tom.

Alto, frustrado, desgostoso,
Cheio de raiva, rancoroso,
Que grita de forma louca,
“Desdita não tenho pouca”.

Perdi-te, que faço,
Não vás embora,
Puxo-te o braço,
Minh’alma chora.

Dois culpados somos,
Um só, não é verdade,
Porque ambos fomos,
A bestialidade.

Na cobrança de passados,
Pelos ciúmes sentidos,
Fomos separados,
Antes de ser unidos.

História triste e vã,
Apressada por carências,
De uma manhã,
De anos de ausências.

Em que corações,
Disponíveis tentações,
Riam de mim,
Lágrimas enfim.

Rolando de olhos tristes,
Pesam-me o semblante,
Porque já não existes,
Foste avante.

Nas asas da sorte,
Ícaro alado,
Fugindo da vida, da morte,
Do chão levantado.

terça-feira, julho 11, 2006

Ilhas de Amor


> Kapiti Island Sunset, Photo of Steven Pinker, http://pinker.wjh.harvard.edu

Na jangada da paixão,
Cheguei a uma ilha,
Na última recordação,
De uma milha.
Daquele amor,
Em que rancor,
E saudade,
Originam amizade.

Que floriu,
Onde amor havia
Que resistiu,
Quando tudo morria.

Minha alma sumiu
Raptada por alguém,
Não sei quem,
Não resistiu,
Em desvario,
Embarcou,
Naquele navio,
Que ma levou.

Para novo destino,
Belo, diferente,
Onde do desatino,
Não negligente.

Amor se ergue,
Pungente,
Fremente,
Do icebergue,
Alto que gelou,
Meu coração,
Com tensão,
Desilusão apagou.

Acesa novamente,
A chama da paixão,
Ah quente,
Quente sensação.

De abrir o coração,
Não ter medo,
Ao destino sensaborão,
Nunca cedo,
Não tenho receio,
Do que virá,
Porque na mesma irá,
Acender o seu esteio.

segunda-feira, julho 10, 2006

NAS TUAS MÃOS


> Foto daqui

Nas tuas mãos deposito a fé,
Que outrora me tiraram,
Não sei se é, ou não é,
Aquilo que encontraram.

No rio espraiado,
Meu sentir,
Meu devir,
Meu amado.

Meu cuidado,
Que procuro,
Encantado,
No futuro.

Desejo ver,
Sentir o teu calor,
Sentir os teus lábios,
Aquele tremor.

Dos amantes,
Arrebatados,
Em abraços flagrantes,
Apaixonados.

Amorosos,
Faladores,
Nervosos,
Ansiosos.

Doces culpados,
Olhares cúmplices,
Na penumbra ocultados,
De caminhos dúplices.

Meu encanto,
Desencantado,
Me encontro,
Desesperado.

Por não ser,
Dono de mim,
De ti, enfim,
Do meu coração.

Pois sim,
Na tua mão,
Esta devoção.

(Poema dedicado a todos os desencantados que têm medo de se encantar, mas que precisam disso para ser felizes. Aqui vai uma palavra de esperança).





domingo, julho 09, 2006

VIVER...



> Foto daqui

_______________________________________________

_____________________________________________

Há dias em que nos sentimos plenos,
Só por ouvir o barulho do mar,
Por ver a luz da lua,
Abraçar o ar,
Que nos refresca o corpo,
Sabendo que somos amados,
Sabendo que amamos,
Sabendo que estamos vivos,
Que temos um futuro,
Não interessa qual,
Porque o que interessa,
É cada momento vivido,
O presente absorvente,
Que nos distrai do passado,
Que nos inibe a insegurança,
Face ao que está para vir,
Simplesmente viver, viver, viver…

sexta-feira, julho 07, 2006

D. Luís I - Subsídios para uma (re)leitura biográfica 2



> Imagem daqui, aludindo à marcha das mulheres de Paris sobre Versalhes, onde Maria Antonieta, a culpada de todos os males de Franca, residia com a sua família.

__________________________________________________________

__________________________________________________________

O Século de D. Luís

O século XIX pode ser considerado, entre outros aspectos, como o século do Liberalismo e da burguesia triunfante.

Do Liberalismo porque a partir da Revolução Francesa (1789), se vão espalhando pela Europa novos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. Ideais que não foram os de uma população inteira, mas sim de uma camada social, que tendia a afirmar-se perante a cada vez maior pauperização das camadas baixas da população. Estou a referir-me à burguesia de grandes comerciantes, banqueiros e industriais[i], que nos países mais desenvolvidos detinham os meios de produção, perante os operários assalariados que, face a um grande aumento demográfico vêem as suas condições de vida piorar[ii].

Em Portugal, que só experimentaria um desenvolvimento a partir de meados do século XIX, a situação era bem diferente, pois havendo uma burguesia, esta iria ocupar o lugar da nobreza terratenente, quer laica, quer religiosa, que se viu gradualmente desapropriada das suas terras devido à desamortização, “processo legislativo complexo, que se traduziu no desmantelamento de corporações e de estabelecimentos religiosos e laicos e na incorporação dos seus bens na Fazenda Nacional, nalguns casos, e, em todos, na transferência, em seguida, para o domínio privado, por meio de venda ou remição em hasta pública, dos bens imóveis considerados de mão morta”[iii]. Essa venda dos bens nacionais intensificou-se sobretudo a partir da vitória definitiva, em 1834, do Liberalismo em Portugal, posteriormente questionado pelas teses socialistas e republicanas.

Da burguesia triunfante devido à sua aptidão para o trabalho, nos países em franco desenvolvimento. Ao invés, a nossa burguesia tornou-se, com o tempo, tão ociosa como a nobreza fundiária, era uma nova aristocracia, comprando as terras por ninharias, com sua pouca vocação para o investimento. Esta vai gerar uma burguesia de gabinete, de bacharéis, formados na universidade, com vista ao funcionalismo público, emprego seguro para pessoas que não gostam de arriscar investindo. Antagonicamente, existia toda uma população analfabeta, de pequenos agricultores, frades e artesãos, que, sendo considerados, segundo as novas noções liberais, cidadãos políticos passivos, não votavam pois não podiam pagar. Estava-se num liberalismo, reconhecidamente censitário, a nível europeu, e camuflado ao nível do nosso país, devido à radical, inovadora e efémera Constituição de 1822, que não refutava mas também não consagrava aquele princípio. Por falar em constituição, é de referir que este foi o grande século do constitucionalismo, das legislações feitas em prol de toda a população de um país, reduzindo os poderes dos monarcas, que de delegados de Deus, portanto, acima da lei, passam a governar mediante a lei – e que monarca exemplar foi D. Luís, como respeitador da Constituição Política da Nação Portuguesa[iv]­.

A nossa história constitucional, durante o século de Oitocentos, é bastante rica, e preencheu e deu vida à primeira metade daquele. Em 1822 surgiu, num palco em que se movimentavam elites revolucionárias e contra-revolucionárias, a Constituição de 1822, texto radical promulgado pelo Soberano Congresso Constituinte. Este texto dificilmente se poderia impor num país com forte tradição paternalista monárquica, aliada à grande influência da religião católica. Contudo, não era com um texto que a situação de pobreza de um país devastado pelas invasões napoleónicas e pela tutoria dos aliados ingleses se resolveria. De qualquer modo este impôs-se, sendo jurado por D. João VI, e detestado por D. Carlota Joaquina e D. Miguel, símbolos do absolutismo monárquico português, insatisfeitos com o poder de veto meramente suspensivo, para além do poder simbólico. Mais tarde, em 1826, ano da morte do rei D. João VI, D. Pedro IV, abdicando em nome de sua filha D. Maria da Glória, vai, de forma contemporizadora, outorgar aos portugueses a Carta Constitucional de 1826, numa tentativa de equilibrar a soberania da nação com os poderes do rei, que aumentam até ao nível do veto absoluto, estando reconstituídos parte dos poderes efectivos da realeza, que detendo o poder moderador, estava protegida por uma câmara alta de pares do reino, nomeados pelo rei, para evitar imposições desagradáveis da outra câmara, a dos deputados eleitos.

________________________________________________________

________________________________________________________


[i] Dreyfus, François, O Tempo das Revoluções 1787-1870, Publ. Dom Quixote, Lisboa, 1981, p. 204: “Face a estas classes tradicionais, nasce da revolução económica uma nova classe ligada à poupança, à industrialização, ao desenvolvimento do crédito e ao progresso da instrução. Porque a Revolução Industrial é ainda, no século XIX, o feito de países onde domina o protestantismo”.
[ii] Idem., p. 206: “O êxodo rural e o desenvolvimento da indústria conduzem à formação de um proletariado industrial. A sua condição de vida é miserável. São obrigados a uma jornada de trabalho de catorze a dezasseis horas”; p. 211: “E a esta sujeição do operário vem juntar-se uma vida material muito dificil. Os salários continuam muito baixos até cerca de 1850”.
[iii] Silva, António Martins da, “O Fenómeno Desamortizador e sua Inserção Histórica”, in História de Portugal, dir. de José Mattoso, Círculo de Leitores, 1993, vol. 5, p. 339.
[iv] “O Rei D. Luís e a Sociedade de Geografia de Lisboa”, in. Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, red. e admin. na S. G. L., Lisboa, série 80.ª, n.ºs 7-12, p. 157: “Como Rei, foi liberal, como homem foi bom”.

quinta-feira, julho 06, 2006

D. Luís I - Subsídios para uma (re)leitura biográfica



> Rei D. Luís I, óleo sobre tela da autoria de Machado, 1871, Palácio Nacional da Ajuda, in GODINHO, Isabel da Silveira (Coord.), Rei D. Luís I - Iconografia, Palácio Nacional da Ajuda, 1990.
__________________________________________________________
__________________________________________________________
Introdução
Este é um trabalho essencialmente biográfico. Ao nível do senso comum, as biografias são relatos da vida de determinada pessoa, importante por alguma razão. Este método foi muito cultivado em Roma (os chamados retratos), e igualmente durante a Idade Média, sendo fundamentalmente biografias de Santos, pessoas cuja vida era exemplo a seguir, portanto, denominadas hagiografias. Não é, contudo, exclusivamente uma biografia, pois esta vai ser enquadrada num campo mais amplo, de enquadramento espácio-temporal, de cerimoniais e práticas comuns, imagem de uma sociedade com as suas crenças e valores[i].

Irei, de vez em quando, apresentar documentos que transcrevi, alguns deles diplomáticos, bastante privilegiados na época do positivismo, precisamente em Oitocentos, o século da História por excelência, em que houve uma exploração sistemática das fontes, sobretudo ao nível da temática política.

Foram também importantes para as minhas pesquisas alguns documentos literários, utilizados no próprio texto, testemunhos bem realistas do século XIX, apesar de se cair no risco de enveredar por pontos de vista facciosos.

Outro tipo de fontes utilizadas foram algumas memórias, concretamente as de Thomaz Mello Breyner, – quarto conde de Mafra, professor e médico de profissão –, que são um óptimo cruzamento da vida do autor com a sociedade do tempo, e sobretudo com a família real portuguesa, à qual ele esteve muito ligado, sendo companheiro de brincadeiras dos filhos de D. Luís – D. Carlos e D. Afonso. Os seus dois volumes de memórias foram-me mesmo muito úteis para apurar alguns traços psicológicos, costumes e ocupações do rei.

Foi minha estratégia, mais ou menos corrente, o cruzamento e articulação de fontes de diversos tipos, transcritas sempre de acordo com a ortografia do original.

Em suma, com este trabalho pretendo evocar uma época de mudanças, já bastante abordada, mas não do ponto de vista da realeza, que nunca foi tão esquecida como nesse período. Sendo D. Luís considerado como um homem desligado do plano material da governação[ii], num reinado considerado pacífico, mais preocupado em cultivar os seus lazeres, as suas artes (que não eram poucas), delegando os poderes políticos a diversos ministérios, dentro de um rotativismo partidário, é preciso frisar que as inovações realizadas no seu reinado contaram com a aprovação deste monarca. Ele próprio de espírito inovador, – um liberal –, estava consciente da importância e necessidade de modernização do país, tão abalado por sucessivas perturbações durante a primeira metade do século XIX.

A época de D. Luís marca uma ascendente prosperidade e prestígio portugueses, ainda que aparentes. Esse prestígio foi, a nível internacional, assegurado pelo monarca, nas suas viagens pela Europa, movimentando-se com facilidade por entre as diversas casas reais europeias, com as quais tinha, na generalidade, boas relações de amizade. Pela figura simpática e cordial do nosso rei, que se mostrou um grande embaixador de Portugal[iii], este país foi fazendo, pouco a pouco, a sua “reentrada na Europa”, que se revelava como o continente hegemónico em vias de grande desenvolvimento. E tal foi o reconhecimento que D. Luís recebeu, que se viu diversas vezes condecorado por vários soberanos estrangeiros, e não só europeus[iv].

É, portanto, meu objectivo localizar, para além de biografar, um homem na época em que viveu; deixar aqui traçados os momentos mais importantes da sua vida e da sua morte, a sua faceta de homem, de rei e de artista.
________________________________________________________________
________________________________________________________________

[i] Ferrarotti, Franco, Histoire et Histoires de Vie, la méthode biographique dans les sciences sociales, Méridiens Klincksieck, Paris, 1990, p. 9: (tradução nossa) “As personagens e as suas famílias tornam-se reveladores das situações e das relações sociais, das relações numa cultura dentro dos debates da vida quotidiana”.
[ii] Almeida, Fialho de, Os Gatos, Círculo de Leitores, vol. 1, p. 56: “Neste Carnaval de Braganças é pois V. M. o único que intenta penetrar os umbrais da História sem bagagem – apenas com a sua traduçãozinha do Hamlet, a greve dos chapeleiros, o sr. José Luciano preso por uma corrente ao realejo constitucional onde há vinte e seis anos V. M. mói a sua própria marcha fúnebre. Ah. que pobreza de feitos históricos! que supressão de vícios e manias! que ausência de vultos glorificadores da sua governação [que grande mentira]!”; p. 58: “Ah, que vida monótona tem sido a de V. M. ... jantarinhos de canja magra no quarto, violoncelos quando vão artistas de S. Carlos, e como hors-d’oeuvre, a pouca vergonhazinha extramatrimonial às quintas-feiras!... V. M. carece de sair quanto antes dessa apatia”.
[iii] “Elogio Histórico de El-Rei o Senhor D. Luiz I”, por José Frederico Laranjo, in O Instituto, Imprensa da Universidade, Coimbra, volume XXXVII, 2.ª série, Julho de 1889 a Junho de 1890: p. 285: “Elle, no extrangeiro respeitado e querido dos outros soberanos”; Ver nota 4.
[iv] D. Luís I, Duque do Porto e Rei de Portugal, Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa, 1990, p. 281: “As ordens honoríficas, como forma de público apreço, desenvolveram-se no decorrer do século XVIII, embora a sua origem remonte à Antiguidade. No século XIX constituíam, factor determinante nas relações diplomáticas entre estados, com trocas mútuas de condecorações que estavam sujeitas a regras protocolares precisas. As ordens honoríficas eram frequentemente destinadas a premiar actos de bravura, em tempo de paz ou guerra, mas ganhando naturalmente profusão nos campos de batalha. No período coincidente com o reinado de D. Luís, os cortesãos eram condecorados pela sua fidelidade e competência, aproveitando-se por vezes ocasiões de especial relevo para se atribuírem as condecorações. D. Luís I foi naturalmente detentor do mais alto grau de todas as ordens portuguesas, o grão mestrado. Quanto às estrangeiras, o grande número de condecorações com que este soberano foi agraciado demonstra bem o aumento do prestígio internacional do nosso país, recuperado após décadas de guerras e instabilidade que o tinham desacreditado no contexto das nações”.

quarta-feira, julho 05, 2006

BIOGRAFIAS

> Foto da autoria de Augusto Bobone, tirada em 1860, representando alguns dos filhos de D. Maria II, com destaque para os sentados D.Pedro V e D. Antónia, e para o futuro D. Luís I à esquerda da fotografia, in Isabel da Silveira Godinho (coord.), D. Luís I, Duque do Porto e Rei de Portugal - Catálogo, 2.ª ed., Lisboa, Palácio Nacional da Ajuda, 1990.
__________________ ____________________
__________________ ____________________
O meu amor pela biografia (histórica) de personalidades que de alguma forma se destacaram nas sociedades em que viveram vem do meu último ano de faculdade em Coimbra, quando para terminar a Licenciatura me propus fazer a biografia de D. Luís I, antepenúltimo rei português.
As biografias têm o seu quê daquilo que muitos designam pejorativamente de petite histoire, mas são muito mais do que isso. São atractivas porque entram de facto pela vida privada do biografado, à qual, como seres curiosos que somos, não ficamos indiferentes, mas são obras centrípetas ou centrífugas, porque partem sempre de um aspecto geral até chegarem ao particular, ou do particular até chegarem ao geral.
Centrípetas são aquelas biografias que, partindo da história geral de uma determinada conjuntura desembocam numa personalidade definida, cujos traços psicológicos (e até físicos) e acções são intimamente marcados por essa mesma conjuntura. Centrífugas são aquelas que partem de uma pessoa escolhida e acabam por inevitavelmente cair numa maior complexidade conjuntural que permita compreender o porquê de fulano ou sicrano ter agido desta forma e não de outra forma qualquer.
A meu ver todas as biografias têm um quê de centrífugo e de centrípeto, porque se umas vezes parte do particular em direcção ao contextual, logo a seguir partem do contextual em direcção ao particular.
São, a meu ver, formas muito criativas e equilibradas, emotivas e despenalizadoras, cativantes, de escrever História. Criativas e equilibradas porque, de forma engenhosa, conseguem alternar o peso do inevitável e rigoroso discurso historiográfico (económico, social, político, ideológico) com um discurso em que a leveza é pautada pelos pormenores da vida quotidiana dos “retratados”, muitas vezes em situações de autêntica hilaridade ou quase intimidade (digo quase porque nunca se fez biografia de alguém que não saísse da esfera privada ou do anonimato). Emotivas e despenalizadoras porque entre o biógrafo e o biografado se desenvolve uma relação íntima que culmina com quase uma adulação do primeiro em relação ao segundo, independentemente de este se ter destacado por feitos reprováveis. Cativantes porque acredito que, respondendo à curiosidade que caracteriza qualquer ser humano face à esfera privada dos outros seres humanos, as biografias trazem mais leitores para a História.
Este pequeno artigo é o prólogo dos meus próximos artigos, que serão o desdobramento da biografia de D. Luís I, ainda que revista posteriormente, que eu desenvolvi em 1996. Já lá vão precisamente 10 ANOS.

quinta-feira, junho 29, 2006

Uma família de nada que tudo tinha...

> foto daqui.
Nada tinha a família do nada,
Por “de nada” se chamar,
Tinha muito mais do que aquela,
Que de tudo se quer gabar.

Tinha flores, pedras, luzes,
Mágoas, sufocos e cruzes,
Tinha amigos, passeios,
Abraços, de carícias cheios.

Eis que um dia,
A família “de nada”,
Se cruzou na rua, coitada,
Com a gabarolas, vadia.

Humilhada, ofendida,
Maltratada foi e será,
Por quem na sua vida,
Nada faz, nem fará.

Nada faz por bem,
Porque não quer trabalho,
Trabalhe quem não tem,
Notas de Euro em baralho.

Do trabalho,
Que outros suaram,
Penaram.

quarta-feira, junho 28, 2006

QUANDO A MORTE NÃO SIGNIFICA MÁ SORTE


Contrariamente aos arrepios e angústias que a carta/lâmina de Tarot representada inspira a quem consulta um tarólogo e esta se lhes depara, a mesma não auspicia a Morte, pelo menos a morte física a que imediatamente temos a tendência de a associar. O nome da carta não existia sequer nos primeiros baralhos de Tarot, sendo simplesmente designada como Arcano sem Nome. Trata-se da carta 13 do conjunto dos 22 arcanos superiores. Talvez seja por esta razão que o próprio número 13 é visto como um sinal de maus augúrios. A palavra Morte só terá aparecido associada à carta nos novos baralhos com tendências ocultistas da Tarologia.
Contrariamente a toda esta fama negativa, ela simboliza precisamente a mudança, a renovação, enfim, uma “morte” necessária para uma nova etapa da vida.
Didier Derlich explica-nos precisamente esta ideia nas seguintes palavras:

O seu simbolismo, um dos mais ricos do Tarot, exprime a omnipotência da vida. E a carta não contém nenhuma negatividade, desde que compreendamos a importância da mudança e da metamorfose, assim como o papel que elas desempenham nas nossas vidas. A mudança causa quase sempre medo. Sabemos o que perdemos, não sabemos o que ganhamos. Sabemos de onde vimos, não sabemos para onde vamos. (Didier Derlich, Guia Prático do Tarot, Pergaminho, p. 150)

Se pararmos para pensar todos os dias nos deparamos com a morte de alguma coisa, todos os dias experimentamos o fim de algo. É precisamente neste espírito que se enquadram as várias formas da morte, seja ela morte episódica, física ou espiritual. Todos os dias nos deitamos e acordamos para um novo dia cheio de possíveis novos desafios, todos os dias pensamos que o presente consumado pode dar lugar a algo que nos surpreende da melhor ou da pior maneira. Todos os dias terminamos coisas que jamais voltamos a empreender. Todos os dias sentimos esperança de mudar alguma coisa nas nossas vidas, ou seja, ansiamos sempre por alguma forma de “morte”.

Para parafrasear e ajudar(-me) a desfazer o irremediável medo que as pessoas têm da morte propriamente dita, não será de pensar que há tantos vivos que parecem mortos e há tantos mortos que permanecem vivos pelas maravilhosas obras que cá deixaram, ajudando à concretização de verdadeiras transformações na vida e na cultura dos seus tempos?!

Termino esta prelecção sobre a péssima tendência que as pessoas (e) eu têm(os) para, por vezes, negativizar(mos) a(s) vida(s) e a(s) morte(s) socorrendo-me de um pequeno texto que encontrei num livro sobre interpretação de sonhos, que vai de encontro ao que o meu primeiro citado deste artigo preconiza sobre uma carta que da morte simplesmente sugere um cadáver em decomposição.

Sonhar que estamos a morrer: quando sonhamos que somos nós que estamos mortos, trata-se de um sonho de muito bom agoiro, pois significa que vamos indeferir uma etapa não muito satisfatória da nossa vida para empreender outra que será mais alegre e benéfica. Esqueceremos recentes mágoas e dissabores, já que perante nós se abre um futuro cheio de êxitos e ganhos. (Grande Dicionário dos Sonhos, Girassol, p.240).
E viva a “morte”, a renovação, a coragem de mudar para melhor.

segunda-feira, junho 26, 2006

Maniqueísmos...

Em primeiro lugar, peço desculpa pela intermitência com que escrevo alguma coisa para este blog, embora por outro não tenha que pedir desculpa porque nele sou livre, ou não, porque esperam sempre que escreva alguma coisa. Mas também mais vale não escrever do que escrever por escrever, e umas vezes estou inspirado, outras nem por isso.
E já aqui vão vários opostos, que espero fazer de acordo com o título que arranjei para mais este artigo.
«Maniqueísmos» resulta de uma frase de Baltassare Castiglione que extraí do livro Lucrécia Borgia, biografia da autoria de Geneviève Chastenet, que me encontro a ler.
Rezava assim Baltassare Castiglione:
«A querer fazer desaparecer os vícios, fazemos desaparecer as virtudes».
Esta frase aplicada ao contexto do Renascimento Italiano em que no seio da própria Igreja o respeito pelos dogmas não era acompanhado pela tentação da carne, facilmente pode ser trazida para hoje, e aplicada desde que o Homem existe, revelando a propensão da Humanidade para aceitar tudo, para se completar com o que diríamos de bom e de mau, e sobretudo para valorizar umas coisas em detrimento de outras. Também só havendo contrapontos as coisas fazem sentido, porque só assim as podemos arrumar em categorias qualitativas, só assim podemos discernir entre aquilo que consideramos bonito-feio, grandioso-insignificante, saboroso-azedo, alegre-triste, carnal-espiritual, frontal-hipócrita.
O que seria do bem se não houvesse mal, do criterioso se não houvesse o negligente, do fantástico se não houvesse o factual?
De mim se não existisses tu? De ti, se não estivesse aqui?
De nós se não existissem eles?
Do futuro, se não houvesse um passado?
Da Lucrécia Bórgia, se não houvesse historiadores de tantas épocas que a afamaram e difamaram?
É no oposto que, acredito, muitas vezes nos encontramos a nós próprios, porque é nele que encontramos aquilo que não queremos ou não sabemos ser, mas também muitas vezes aquilo que não somos porque não temos coragem para dar o salto! Que não somos porque somos outra coisa que não aquela...

terça-feira, maio 30, 2006

NEVER SAY NEVER...




















Never Say Never,
If you are alone,
Or if anyone,
Wants to stay together.

Never say never,
If inside of you,
It's always and ever,
Missing a clue.

Never say never,
If you really know,
That I'm here forever,
To keep going with the show.

Never tell me,
"I don't like you",
Because i'm free,
It's true.

Don't lie to me,
Never is my request,
Because I can see,
That you are not the best.

quarta-feira, maio 24, 2006

SOBRANCERIA... DESILUSÃO...


Olhas os outros com desdém,
Esgares sobranceiros,
Não respeitas mais ninguém,
Só doutores e engenheiros.

Mesmo nestes, afinal,
Vês poder, influência, decisão,
Nas famílias "Teixeira e tal",
Encontras afirmação.

Jantares, festas,
Um restaurante ou bar,
Coisas que detestas,
No sossego do teu lar.

Amizade verdadeira,
Que te foi leal,
Enganas sorrateira,
Porque não te traz bem nem mal.

Oh sobranceria, desilusão!
Tamanha tu foste,
Pois então.

sábado, maio 13, 2006

MAR






















Ruge os teus lamentos,
Mar azul escuro,
Desfaz-te em tormentos,
Na esperança do futuro.

Outras vezes verdes,
São tuas águas amenas,
Por vezes cinza,
A lembrar minhas penas.

Também tuas ondas espumas,
Como se de raiva acometido,
Águas que costumas,
Trazer no sueste prometido.

Lavas mil almas,
Corações quebrados,
Pessoas calmas,
Heróis recordados.

Foste estradas,
Com mil faixas,
Levaste encravadas,
Nos porões mil caixas.

Trouxeste maravilhas,
Coisas novas de espantar,
Levaste a explorar,
Descobrir tantas milhas.

Recordas poetas,
Lusos zarolhos,
Da desgraça profetas,
De franzidos sobrolhos.

Velhos agoirentos,
Recolhidos na velhice,
Desocupados, sem portentos,
Esquecidos da meninice.

Dás a vida,
A quem dá a morte,
Oh sorte,
Desmentida.

domingo, maio 07, 2006

Dia da Mãe

Maria Antonieta e os filhos,
óleo de Elisabeth Louise Vigée-Le Brun.
Museu do Castelo, Versalhes.
--------------------
Optei por este óleo que representa a rainha de França Maria Antonieta com os seus filhos, não porque tenha alguma adoração pela rainha representada, mas porque se adequa bem ao dia que hoje se assinala no nosso país: o Dia da Mãe.
Com defeitos e qualidades como qualquer ser humano, as mães são sempre uma figura de referência pelos piores e melhores motivos nas nossas vidas. Dão-nos a vida, alimentam-nos, amparam-nos, repreendem-nos, muitas delas querem escolher os nossos futuros, muitas não estão para aí viradas.
Umas são matriarcas assumidas, outras submissas, umas demasiado presentes, outras ausentes. Umas felizes pelas escolhas dos filhos, outras felizes por conseguirem escolher as vidas deles, umas frustradas porque não o conseguiram, outras agradecidas porque eles se desenrascaram bem sozinhos, independemente dos rumos que tomaram.
Independentemente das suas condutas enquanto mães, elas são seres humanos, com fraquezas e forças incríveis. São mulheres que já foram crianças, que também são filhas, que querem seguir os modelos que elas próprias receberam ou que se afastam dos mesmos por razões diversas.
São capazes de inspirar em nós os mais controversos sentimentos, mas acima de tudo são, à maneira delas, "as nossas melhores amigas".
Para as mães de todos: Sejam felizes, não se anulem enquanto mulheres e não anulem enquanto mães.

E pronto... já cá cantam 32

de Tom of Finland, «Beach Boys» 1971, in The Comic Collection, n.º 2
------------------------------------------
É engraçado como o clichet "estou a ficar velho" que os nossos próximos mais graúdos tanto apregoam em certa medida se aplica muito bem.
Ontem saí um bocadito até mais tarde e fui ver como paravam as modas para os lados de Albufeira e Vilamoura.
Se ficar velho significa não ter pachorra para estar uma data de tempo de pé a ver olhares gulosos a contemplarem a nossa casca e a casca dos nossos acompanhantes, então estou mesmo a ficar velho.Se for para ser mais justo, talvez seja melhor dizer "estou a crescer por dentro, e os meus interesses agora já não são os que tinha há algum tempo atrás" ou talvez ainda melhor "o que hoje pode parecer verdade, amanhã pode não o ser".

terça-feira, maio 02, 2006

MUNDOS...



Entre dois mundos,
Um olhar se espraia,
São Mundos fecundos,
Em que uma lágrima desmaia.

Um sorriso contido,
Rasgado, solto,
Da névoa revolto,
Sério, abatido.

Enquanto choras,
Tu e ele, eles e elas,
Que adoras.

Seguiram suas vidas,
Escolhidas,
Vidas vividas.

sábado, abril 22, 2006

Salpicos na tela...















> Cetáceos, acrílico sobre tela, 2002 (da minha autoria).

Mergulhei nesta tela,
Pensamentos coloridos de esperança.
Pintei baleias, golfinhos, orcas,
Mares de lembrança.

De tempos passados,
Presentes, futuros,
De livros desbravados,
Claros e escuros.

Quentes e frias cores,
Amizades, rancores,
Calores, atracções.

Livres corações,
Almas libertas,
Fantasias descobertas.

quinta-feira, abril 20, 2006

Rabiscos caseiros...


















> Díptico Sem título, da minha autoria.
___________________________
Para me entreter,
Rabisco numa tela,
Traços de prazer,
A pastel, não aguarela.

Sentimentos, cores, desejos,
Lembranças de tempos idos,
Acções, eventos, ensejos,
Da alma saídos.

Na cor se esbate o peso,
Da solidão, da alegria,
De mais um dia.

No branco, um beijo,
Um afago, um gracejo,
Da realidade.

terça-feira, abril 18, 2006

Boca do Rio

Muitas vezes levo os meus cães à Boca do Rio, uma pequena praia entre escarpas rochosas que outrora testemunharam quotidianos de civilizações idas, e às quais devemos parte da nossa identidade colectiva.
É um duplo encontro que ocorre sempre que me desloco àquela pequena praia, ou mais concretamente às colinas sobranceiras, onde os caninos correm, cheiram, esgravatam livremente, e onde eu me esqueço momentaneamente dos desafios de uma existência pautada por obrigações e deveres profissionais, convívios, conversas, encontros e desencontros.
Um encontro com a natureza, um encontro com o simples «estar vivo».
Uma felicidade pela simples percepção de que nós somos donos da nossa existência, que fazemos com ela aquilo que queremos, ou pelo menos podemos optar por não fazer aquilo que sabemos que nos pode ameaçar.

sábado, abril 15, 2006

Há peruas e perús... (ou o regresso ao inferno)



> Um residente do Zoo de Lagos, posando para a câmara no dia 2 de Abril de 2006.
____________________
____________________
Não há dúvida de que a Páscoa é o prelúdio de uma estação alta cheia de veraneantes histéricos e socio-dependentes que não conseguem estar uma vez no ano apartados do stress diário das terras de origem ou das que os acolheram por motivos profissionais.

Eis que vieram todos por aí abaixo, com o bóbi, o tareco, o piriquito, a avó, a bisavó, a tia-avó ou o sobrinho e a amiga da filha mais nova que ainda não se conseguiu libertar das garras dos pais por ter simplesmente 15 anos.
Tanta gente a falar com pronúncia de "Cascais", a matar saudades dos centros comerciais idênticos àqueles onde ainda há três dias atrás tinham adquirido o novo fato de banho para a rentrée da saison, o pareo com cores brasílicas para se pavonearem pelas marginais ou pelas marinas soalheiras onde o encontrão e o serviço de má qualidade se tornam lugares comuns.
E viva os perús do Zoo de Lagos, e os primatas, e os répteis, e as outras aves, e os mamíferos.
Não, não recebo nenhuma comissão por estar a publicitar este estabelecimento de recreio e de aprendizagem que visito de tempos a tempos.
O Algarve tem tanta coisa bonita, que não as esplanadas a abarrotar, os shopping, as marinas dos tios e das tias.
É caso para dizer: Há peruas e perús.

domingo, abril 02, 2006

Alentejo na minh'alma!


> Foto do Norte-Alentejano em Março
___________________________
___________________________
Provavelmente muitos conhecem aquele fado lamurioso que reza os seguintes versos:

Abalei do Alentejo,
Olhei para trás chorando,
Alentejo na minh'alma,
Tão longe me vais ficando.

Pois bem, nem sempre assim foi, e provavelmente nem sempre assim será.
O que é que nem sempre assim foi, nem sempre assim será? - Pergunta o leitor.
Simples, caro leitor, muito simples!
Nem sempre deixei para trás o meu Alentejo a chorar, e provavelmente nem sempre assim o deixarei.
Claro está que ao dizer "nem sempre", o leitor partirá do princípio que, se nem sempre, algumas vezes, pelo menos, assim foi.
Pois foi, muitas vezes saí do Alentejo chorando, com uma mágoa que parecia não ter fim.
Com um desespero que só parava quando chegava ao meu exílio meridional.
Com os olhos inchados e raiados de sangue que iam aclarando à medida que o tempo passava.
Mas, ainda hoje, decorridos quase 7 anos de uma guerra com batalhas dolorosas, há momentos em que, não obstante me sentir mais duro, mais confiante, mais determinado e instalado na vida, sinto o peso da necessidade constante de não misturar o local de nascimento com o local que escolhi para viver.
Mas batalhas todos nós enfrentamos, muitas vezes batalhas que nós próprios nos impomos. Batalhas que não nos são colocadas por outros, mas que nós próprios inventamos, porque o ódio é tanto, a mágoa é imensa, somos tão problemáticos, e estamos tão "malhadiços" (aculturação linguística), que não sabemos viver de outra forma que não seja apontando o dedo a tudo e a todos, mesmo que às vezes fosse mais racional apontar o dedo a nós próprios.
Enfim, se há os que se deixam espezinhar, há também os que são espezinhados sem tomarem uma atitude passiva, se há os que são justos a apontar o dedo, também há aqueles que apontam o dedo a tudo o que não corresponde às suas crenças e valores, se há os que têm fairplay, há aqueles que só sabem jogar pelas suas regras.
Para quê inventar problemas, para quê viver em constante sobressalto e em constante conflito?
Ninguém é perfeito, mas todos temos a obrigação, o dever de tentar ser felizes, e ser felizes sem estar sempre a culpar os outros pela nossa infelicidade.

AMIZADE?!

Amigo, por favor, vem-me buscar!
Estou triste, perdido, a chorar.
Na estrada, abandonado à sorte.
Com medo, fugindo da morte.

Aí vou eu, querido, buscar-te,
Aí ou em qualquer parte.
Porque te quero bem,
E não te tenho desdém.

Desculpa, que vergonha, cansar-te,
Àquelas horas tardias,
Mas só tu, os outros à parte,
Podias acalmar minhas manias.

Não tens de me agradecer,
Se sabes que foi um prazer,
Correr para te acarinhar,
Para te salvar.

De um mau momento,
Por ti criado,
De um tormento,
Por ti forjado.

Agora que tudo passou,
Estás fortalecido, pacificado,
Esqueces-te de quem eu sou.

Não precisas de mim agora,
Se tens audiências de leitura regular,
Para quê perder uma hora,
Comigo, que só te fiz penar?

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

SONS, CORES, CHEIROS E SABORES...

Estava na altura de começar a dar mais cor aos meus escritos.
Por essa razão, porque também gosto muito de rir, e o espírito positivo também me caracteriza, aqui ficam mais umas passagens da Senhora Sócrates, de Messadié, carregadas de descrições que nos transportam para uma alegre e movimentada área comercial tradicional onde a possibilidade de petiscar e de despojar a carteira dos poucos Euros que por lá existem de forma efémera, fazem de nós aquilo que todos somos, seres mundanos, com prazeres materiais, com olhos cobiçosos, com defeitos, com virtudes, com alegrias, com tristezas, com VIDA, atentos aos sons, cores, cheiros e sabores que nos rodeiam.
A pouca distância ergue-se um edifício muito comprido; (...) é constituído por uma simples galeria colunada (...) [que] dá para umas salas, a maior parte das quais se destina ao comércio. Trata-se da Stoa do Sul (...) onde se podem encontrar, para além de Aristides [o taberneiro, ou se quisermos, o dono de um bar] (...), Caralâmbis, o alfaiate, Talassúmenos, o comerciante de pergaminho, que também exerce as funções de livreiro (...). Também lá se encontra Alexos, o ourives, que faz por encomenda louça de prata ou de ouro, com o retrato do cliente ao centro; Eugénio, o ceramista, que vende determinadas peças decoradas a um preço superior ao que valeriam se fossem de prata; Melésias, o escrivão público, para os apaixonados desprovidos de imaginação, que cobra dez dracmas por uma carta de 20 linhas, e 20 por um epigrama; sabe conceber para a donzela e para o efebo epigramas galantes, que valem ao que os envia a reputação de letrado de bom gosto (...). E Tsimis, o sandaleiro mais célebre e mais rico do mundo grego desde que confeccionou para personagem sandálias ornamentadas de prata e pedras azuis; Sólon, o comerciante de óleo, que também vende vinagre, sal e ervas; Mirónides, o advogado (...).
Aí se encontra também Aixoni, o cabeleireiro, que só penteia na sua loja pessoas de condição modesta, porque as outras o convocam para suas casas, como certas heteras, que mudam de penteado sempre que têm um jantar (...). Aí se encontra o célebre Demis, comerciante de produtos de salga, queijos, azeitonas, sardinhas secas, que também vende frutos secos; Ortodoxos, o farmacêutico, cuja loja tresanda à nafta que manda vir da Palestina por alto preço e com a qual fabrica uma pasta repulsiva com óleo e cravinho, para tratar os reumatismos; mais discretamente, também vende esponjas contraceptivas. E Clázio, que aluga carpideiras para os enterros, e cuja casa é, como seria de esperar, contígua à do boticário. Anásio é mercador de mel do Himeto ou do Licabeto; Aristides, o mercador de vinho (que recomenda a cada pessoa o mais adequado ao respectivo temperamento e às circunstâncias: um Samos encorpado para os encontros galantes, um Quios ligeiro para as refeições alegres), vende vinho à taça, barato, mas também cerveja e hidromel. Juntemos-lhe ainda dois padeiros, três comerciantes de charcutaria e dois comerciantes de frutas.
Finalmente, temos Nicolau e Zopiris, que se encontram exactamente nas duas extremidades das galerias e dedicam um ao outro um ódio sem falhas, porque exercem ambos a mesma profissão: fabricam flautas e liras.
É também na Stoa que se encontram os especialistas de pequenos ofícios, como o depilador com cera, o massagista, o entrançador de grinaldas, o homem que aluga dançarinos e acrobatas, e até o que lança as sortes. Para o final da tarde, as prostitutas e os rapazes passeiam por ali, na esperança de arranjar quem lhes ofereça de jantar e uma moeda. Na esplanada, as pequenas tendas, que abrem de manhã e só fecham caída a noite, vendem pequenos fritos e saladas.
Este excerto, simples, descritivo, enérgico, sintetiza bem os prazeres mundanos da vida. Quase que sinto os cheiros, os pregões, os encontrões das pessoas, quase que tenho vontade de saltar desta cadeira em que me encontro e lançar-me à procura do que mais de parecido, a uma hora destas, há com uma rua com tal oferta de produtos...

domingo, fevereiro 26, 2006

A(S) SENHORA(S) SÓCRATES

Xantipa sabia muito bem por que razão Sócrates a não convidava a entrar nos seus aposentos; era porque não estava só. Era frequente receber pessoas que vinham consultá-lo sobre assuntos da Cidade que preferiam não debater em público; pagavam-lhe por isso e os seus ofícios de conselheiro engordavam o magro estipêndio que ele recebia na sua qualidade de conselheiro do primeiro estratega, Péricles. Mas acontecia os visitantes demorarem-se e passarem lá a noite, e não era difícil adivinhar que as suas conversas assumiriam um carácter mais íntimo. Esses momentos sossegavam Xantipa: ela sabia que Sócrates a não trocaria por outra mulher. Fiel à tradição ateniense, de acordo com a qual a companhia das mulheres amolece os homens, ele preferia estes últimos. Sem paixão, aliás, uma vez que se defendia dela. Xantipa compreendera desde muito cedo que o prazer e o sentimento se repelem mutuamente, e os homens, achava ela, eram tão fiéis aos seus companheiros de cama como às putas dos bordéis.
Gérald Messadié, A Senhora Sócrates, Quetzal Editores, p. 22
Este é um excerto do livro que actualmente me encontro a ler, e que permite, no século de Péricles, vislumbrar o quotidiano e as mentalidades atenienses, focando, de uma forma interessante, o homossexualismo socialmente aceite enraízado no seio de famílias influentes.
A protagonista da história é Xantipa, uma mulher que, contrariamente ao que vulgarmente sucedia na sociedade grega antiga, se manteve solteira, contra sua-vontade e para mal da sua então baixa auto-estima, até aos 24 anos de idade. Dotada de traços rudes e de fraca beleza exterior, mas de fortes convicções interiores, eis que finalmente Xantipa é pretendida pelo filósofo Sócrates, que se dirige a Hélia, mãe da solteirona, para a pedir em casamento.
Casados e instalados numa residência num bairro in da cidade de Atenas, rapidamente Xantipa dá a Sócrates dois filhos homens e, segundo Gérald Messadié, depressa Xantipa sente que o sexo não é para si, valorizando mais o afecto e o respeito conjugais. Enfim, sentia-se realizada como mãe e não se importava de prescindir dos afectos sexuais que para si foram, ao que parece, dolorosos e até chocantes, face à sua "pureza" de idade tardia, pela qual achava que os órgãos genitais masculinos eram pequenos como os que representavam os escultores clássicos.
Eis que, na sua fraca propensão para os apetites do sexo, Xantipa descobre a homossexualidade do seu marido, intervalada com as recepções de trabalho que o ocupavam até altas horas da noite nos seus aposentos privados. Sem se deixar magoar, ferir, Xantipa terá preferido esta situação que considerava devaneio sem importância, a uma situação de romance entre Sócrates e outra mulher, pois via nos casos homossexuais de seu marido simples e inocentes idas a um bordel, das quais não restava mais do que o saciar dos desejos da carne.
Não poderá esta história perfeitamente ser transportada para o presente real, em que tantas "senhora(s) sócrates", acomodadas numa vida de conforto, realizadas por serem mães, silenciadas por crenças naquilo que elas pensam ser os devaneios homossexuais sem importância dos maridos, aceitam de bom grado pactuar com a hipocrisia da sociedade, que aclama a mentira e aponta o dedo aos que, de forma corajosa, enfrentam a sociedade em prol da sua verdadeira natureza?
Há coisas que parecem teimar em não mudar...

sábado, fevereiro 25, 2006

FIM DE NÓS DOIS...

Logicamente não vou por aí,
Porque estás à minha espera,
Fico longe de ti,
Não quero ser quimera.

Sabes que não consigo,
Odiar-te e tão pouco,
Gritar-te feito louco,
A ti a quem persigo.

Espera por mim, não vás,
Estou precisado de ti,
Não, não me deixes em paz.

Vou-me porque sofri,
Demais quando estive a teu lado,
Fico longe de ti.

domingo, fevereiro 19, 2006

Soneto da vida...

Da vida, cheia de eventos,
Belos, tristes, comoventes,
Perfumados, bafientos,
Arrojados, indecentes.

Agradece à vida,
Teres recebido coragem,
A força investida,
De alcançar a outra margem.

A força de querer ser,
De estar ao pé de mim,
De me querer, enfim.

Liberdade para pensar,
Vontade de fazer,
Loucura, sobriedade, amar.

Soneto da solidão

Condição tua, minha, dele e dela,
Realidade não menos bela,
Quando buscada,
E encontrada.

Condição triste,
Se em nós existe,
A mágoa, o medo, a dor,
A perda do amor.

Felizes, contentes, estão,
Os que escolhem estar sós,
Sem dores nem dós.

E quem não está só,
De alguma maneira?
Na expiração derradeira.

domingo, fevereiro 05, 2006

DESENGANEM-SE OS QUE PENSAM QUE "AQUI DEL GAY" É FÁCIL...

Quando escrevi o "Aqui del Gay..." algumas pessoas parecem tê-lo entendido como uma crítica ao mundo homossexual, mas o que não entenderam foi que se tratava de uma melopeia, de uma lamentação, muitas vezes face à forma como eu próprio reajo ao que me é adverso.
Reacções de desânimo, baixa auto-estima, frustração, revolta, mas também reacções de autenticidade, sinceridade, consciência tranquila, respeito próprio.

Aqui del Gay...

As chalaças, as piadas, as bocas,
A sinceridade, o grito, a revolta,
As palavras loucas,
O desprezo auto-infligido, na volta,
É sintoma de fraquezas, não poucas.

A alegria, a sedução,
A disponibilidade e a prontidão.
A solidão e a coragem,
Colocados na margem.

O medo de magoar alguém,
A perda de outrém.
Choros de desdém,
Por não se ter ninguém.

Conforto, carinho,
Amor e beijinho,
Abraço apertado,
Coração exaltado.

Materialismo,
Coisas banais.
Lirismos,
Riquezas fulcrais.

Leituras, artes,
Brinquedos e devaneios.
Compras em muitas partes,
Encobrem os nossos receios.