sábado, abril 22, 2006

Salpicos na tela...















> Cetáceos, acrílico sobre tela, 2002 (da minha autoria).

Mergulhei nesta tela,
Pensamentos coloridos de esperança.
Pintei baleias, golfinhos, orcas,
Mares de lembrança.

De tempos passados,
Presentes, futuros,
De livros desbravados,
Claros e escuros.

Quentes e frias cores,
Amizades, rancores,
Calores, atracções.

Livres corações,
Almas libertas,
Fantasias descobertas.

quinta-feira, abril 20, 2006

Rabiscos caseiros...


















> Díptico Sem título, da minha autoria.
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Para me entreter,
Rabisco numa tela,
Traços de prazer,
A pastel, não aguarela.

Sentimentos, cores, desejos,
Lembranças de tempos idos,
Acções, eventos, ensejos,
Da alma saídos.

Na cor se esbate o peso,
Da solidão, da alegria,
De mais um dia.

No branco, um beijo,
Um afago, um gracejo,
Da realidade.

terça-feira, abril 18, 2006

Boca do Rio

Muitas vezes levo os meus cães à Boca do Rio, uma pequena praia entre escarpas rochosas que outrora testemunharam quotidianos de civilizações idas, e às quais devemos parte da nossa identidade colectiva.
É um duplo encontro que ocorre sempre que me desloco àquela pequena praia, ou mais concretamente às colinas sobranceiras, onde os caninos correm, cheiram, esgravatam livremente, e onde eu me esqueço momentaneamente dos desafios de uma existência pautada por obrigações e deveres profissionais, convívios, conversas, encontros e desencontros.
Um encontro com a natureza, um encontro com o simples «estar vivo».
Uma felicidade pela simples percepção de que nós somos donos da nossa existência, que fazemos com ela aquilo que queremos, ou pelo menos podemos optar por não fazer aquilo que sabemos que nos pode ameaçar.

sábado, abril 15, 2006

Há peruas e perús... (ou o regresso ao inferno)



> Um residente do Zoo de Lagos, posando para a câmara no dia 2 de Abril de 2006.
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Não há dúvida de que a Páscoa é o prelúdio de uma estação alta cheia de veraneantes histéricos e socio-dependentes que não conseguem estar uma vez no ano apartados do stress diário das terras de origem ou das que os acolheram por motivos profissionais.

Eis que vieram todos por aí abaixo, com o bóbi, o tareco, o piriquito, a avó, a bisavó, a tia-avó ou o sobrinho e a amiga da filha mais nova que ainda não se conseguiu libertar das garras dos pais por ter simplesmente 15 anos.
Tanta gente a falar com pronúncia de "Cascais", a matar saudades dos centros comerciais idênticos àqueles onde ainda há três dias atrás tinham adquirido o novo fato de banho para a rentrée da saison, o pareo com cores brasílicas para se pavonearem pelas marginais ou pelas marinas soalheiras onde o encontrão e o serviço de má qualidade se tornam lugares comuns.
E viva os perús do Zoo de Lagos, e os primatas, e os répteis, e as outras aves, e os mamíferos.
Não, não recebo nenhuma comissão por estar a publicitar este estabelecimento de recreio e de aprendizagem que visito de tempos a tempos.
O Algarve tem tanta coisa bonita, que não as esplanadas a abarrotar, os shopping, as marinas dos tios e das tias.
É caso para dizer: Há peruas e perús.

domingo, abril 02, 2006

Alentejo na minh'alma!


> Foto do Norte-Alentejano em Março
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Provavelmente muitos conhecem aquele fado lamurioso que reza os seguintes versos:

Abalei do Alentejo,
Olhei para trás chorando,
Alentejo na minh'alma,
Tão longe me vais ficando.

Pois bem, nem sempre assim foi, e provavelmente nem sempre assim será.
O que é que nem sempre assim foi, nem sempre assim será? - Pergunta o leitor.
Simples, caro leitor, muito simples!
Nem sempre deixei para trás o meu Alentejo a chorar, e provavelmente nem sempre assim o deixarei.
Claro está que ao dizer "nem sempre", o leitor partirá do princípio que, se nem sempre, algumas vezes, pelo menos, assim foi.
Pois foi, muitas vezes saí do Alentejo chorando, com uma mágoa que parecia não ter fim.
Com um desespero que só parava quando chegava ao meu exílio meridional.
Com os olhos inchados e raiados de sangue que iam aclarando à medida que o tempo passava.
Mas, ainda hoje, decorridos quase 7 anos de uma guerra com batalhas dolorosas, há momentos em que, não obstante me sentir mais duro, mais confiante, mais determinado e instalado na vida, sinto o peso da necessidade constante de não misturar o local de nascimento com o local que escolhi para viver.
Mas batalhas todos nós enfrentamos, muitas vezes batalhas que nós próprios nos impomos. Batalhas que não nos são colocadas por outros, mas que nós próprios inventamos, porque o ódio é tanto, a mágoa é imensa, somos tão problemáticos, e estamos tão "malhadiços" (aculturação linguística), que não sabemos viver de outra forma que não seja apontando o dedo a tudo e a todos, mesmo que às vezes fosse mais racional apontar o dedo a nós próprios.
Enfim, se há os que se deixam espezinhar, há também os que são espezinhados sem tomarem uma atitude passiva, se há os que são justos a apontar o dedo, também há aqueles que apontam o dedo a tudo o que não corresponde às suas crenças e valores, se há os que têm fairplay, há aqueles que só sabem jogar pelas suas regras.
Para quê inventar problemas, para quê viver em constante sobressalto e em constante conflito?
Ninguém é perfeito, mas todos temos a obrigação, o dever de tentar ser felizes, e ser felizes sem estar sempre a culpar os outros pela nossa infelicidade.

AMIZADE?!

Amigo, por favor, vem-me buscar!
Estou triste, perdido, a chorar.
Na estrada, abandonado à sorte.
Com medo, fugindo da morte.

Aí vou eu, querido, buscar-te,
Aí ou em qualquer parte.
Porque te quero bem,
E não te tenho desdém.

Desculpa, que vergonha, cansar-te,
Àquelas horas tardias,
Mas só tu, os outros à parte,
Podias acalmar minhas manias.

Não tens de me agradecer,
Se sabes que foi um prazer,
Correr para te acarinhar,
Para te salvar.

De um mau momento,
Por ti criado,
De um tormento,
Por ti forjado.

Agora que tudo passou,
Estás fortalecido, pacificado,
Esqueces-te de quem eu sou.

Não precisas de mim agora,
Se tens audiências de leitura regular,
Para quê perder uma hora,
Comigo, que só te fiz penar?