segunda-feira, novembro 27, 2006

Há sempre uma coisa sacrificada para que outra possa existir…



> fusão de http://hometown.aol.com/ e http://www.onecomeats.com/images/steaks.jpg

Aquela manta e aqueles farrapos pendurados num prego fediam a bedum, a leite e a sangue. Estes sapatos de boca aberta., aos pés da cama, acabavam de mexer-se com o bafo de um boi estendido na erva e, no sebo com que o sapateiro os engraxara, grunhia um porco sangrado até à última gota. Por toda a parte havia morte violenta, tal como num matadouro ou num recinto patibular. Um pato degolado grasnava na pena que iria servir para traçar em velhos pergaminhos ideias julgadas dignas de perdurar para sempre.

(Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro, Col. Mil Folhas, Público, 2002, p. 165).

Uma lágrima trocada,
Por não te ter a meu lado,
Uma decisão tomada,
Com o coração embargado.

Por desistir de lutar,
Por ti que escapas,
Por me deixar ir,
Ao encontro de alguém,
Que me queira bem!

sexta-feira, novembro 24, 2006

A prenda que José iria receber...



> imagem adaptada do site www.schleich-s.de

Estes três gatinhos são fotografias daqueles que o Jorge comprou naquela tarde soalheira de Outono, com uma alegria de criança, para dar a José, um apaixonado dos felinos domésticos…

quinta-feira, novembro 23, 2006

Absolument Fabuleux...



www.bacfilms.com/fichedvd.php?id=74

No dia 11 de Novembro, dia de São Martinho, assisti ao filme Absolument Fabuleux, recriação cinematográfica francesa da responsabilidade do realizador Gabriel Aghion, e em que as britânicas Patsy Stone (Joanna Lumley) e Eddy (Jennifer Saunders) surgem como Patsy Laroche (Nathalie Baye) e Eddie (Josiane Balasko). Não se ficam atrás no humor e nas excelentes interpretações, e nas peripécias rocambolescas regadas de muito champagne e cocaína, numa clara decadência urbana de mulheres que pararam nos 70, mas com um enorme glamour e vanguardismo apoiado no excelente guarda-roupa de Jean-Paul Gaultier.
Devo uma excelente noite a uma pessoa muito especial para mim, absolutamente fabulosa, independentemente das imperfeições que a caracterizem e fragilizem.
Absolutamente Fabulosa foi toda essa tarde e toda essa noite, onde o nervosismo foi lentamente abrindo portas ao carinho, à ternura, ao amor.
Saudades, saudades de dias como aqueles, sim, são muitas!

Vontade de ir...


Se pudesse fazia uma mochila com pouca roupa e ía embora, pelo Mundo, sem destino...

segunda-feira, novembro 20, 2006

As palavras são enganadoras...


www.futsal0304.blogger.com.br

As palavras enganadoras proliferam infelizmente, porque cada vez mais são ditas sem sentimento, sem significado coincidente com a acção, ou no intuito de convencer determinado indivíduo pela fraude, a agarrar uma determinada causa.
Mais doloroso é não acreditarem nas nossas palavras quando elas são sentidas, quando reflectem o que realmente sentimos, e preferem cercear-nos, controlar-nos, castrar-nos os sentimentos, em nome de uma calma necessária para que as coisas possam correr bem.
Ainda mais dolorosas e enganadoras são quando nos encantam de forma grandiosa e sublime, encorajando-nos a continuar a acreditar nas boas intenções de alguns seres humanos, nas verdadeiras aspirações de carinho, de amor, de partilha, de actos de lealdade, de sinceridade e de coragem para serem e fazerem outros seres humanos felizes, quando depois nos apercebemos que tudo foi em vão.
Mais dolorosas ainda quando são omitidas, e não nos matam a sede de ouvir algumas delas, pela saudade, pela necessidade de conforto.
O ser humano está cada vez mais de costas voltadas para o seu próximo, cada vez mais se notabiliza pela mediocridade, e isso faz-me carregar um grande e cansado lamento interior.
Por isto tudo, mais uma vez me socorri de uma senhora da literatura mundial que escreveu:

Desde Adão até hoje, poucos bípedes têm havido merecedores do nome de homem.

(Marguerite Yourcenar, A Obra ao Negro, col. Mil Folhas, PUBLICO, 2002, p. 104).

Elas, as palavras, só são enganadoras se forem ditas em consciência plena de que o são. Mesmo que um dia possam ser deitadas por terra, no momento em que são ditas, muitas delas espelham de facto o que se passa no âmago de alguém.
Eu continuo a acreditar nas palavras… de algumas pessoas!

domingo, novembro 19, 2006

Surpresa abortada...



> Praia de Altura, tarde de 19 de Novembro de 2006.

Quando uma pessoa pensa que consegue mudar, tornar-se mais dura de coração e deixar de fazer “loucuras” dedicadas ao amor, eis que percebemos que não vale a pena deixar de o fazer, ainda que essas novas loucuras, revestidas do efeito surpresa, abortem por completo, mais e mais uma vez, e que depois de sentirmos a frustração e de nos olharmos ao espelho e nos chamarmos de “burros”, temos a sensação de que não deixaremos de o fazer, porque não é uma questão de burrice, é uma questão de esperança, de acreditar que vale a pena lutar por aquilo em que acreditamos, de acreditar que existem pessoas capazes de dizer “quero ser feliz, e para ser feliz preciso de fazer alguém feliz”, capazes de dizer “quero partilhar a minha vida com uma pessoa”, capazes de assumir que há pessoas que lhes querem bem e de não as esconderem dos pais ou das mães.
Não é uma questão de burrice, é uma questão de vontade de partilhar, de amar, de corajosamente enfrentar este mundo e o outro para ser feliz, doa a quem doer.

Num dia de Outono soalheiro, um amigo meu chamado Jorge, de 32 anos, levantou-se cheio de energia, com o coração a transbordar de paixão e de amor e pensou:
- Já que não vem ele até mim, porque não fazer-lhe uma surpresa?
Tratava-se de fazer mais de uma centena de quilómetros para visitar José, de 34 anos, independente, e o homem que preenchia o coração de Jorge.
Jorge enfiou-se no seu carro e meteu-se à estrada, com intenção de passar pelo Shopping de Faro para comprar uma lembrança a José, uma pequena lembrança mas que aos olhos de Jorge eram a cara de José.
Chegado junto à casa de José, em Altura, Jorge reparou que José não estava em casa e resolveu fazer uma chamada telefónica a José, avisando-o de que estava à sua porta. Jorge sabia que José devia estar a almoçar em casa da mãe, por isso resolveu, já cheio de fome ir a um snack-bar chamado Bela Praia, comer uma sandes mista e uma Pepsi.
Entretanto, enquanto esperava pelo parco almoço, Jorge insiste em ligar a José para o avisar que estava à sua espera, mas José continuava a não atender.
Foi aí que Jorge começou a pensar.
- Ele não me atende porque está com a mãe. Ele tem medo de falar comigo ao pé da mãe.
Mas continuou a afastar esse temor, por mais algum tempo, e lá comeu a sua sandes mista, bebeu a sua Pepsi e rematou com um café cheio, como sempre costuma beber.
Depois de pagar e de se dirigir para o carro voltou a ligar a José e mais uma vez não obteve resposta. Ainda assim, meteu as chaves na ignição e voltou à casa de José com uma ligeira esperança de encontrar o seu carro já estacionado naquela casa de sonho onde tudo tem um significado especial. Mas o carro de José ainda não estava e mais uma vez o telefone tenta avisar José da surpresa que, caso ele atendesse, passaria só a ser meia-surpresa. Mas urgia avisar José para afastar a possibilidade de o mesmo chegar na companhia da mãe.
É então que Jorge recebe uma mensagem sms de José a dizer: - Eu tou com a minha mãe. Fui buscá-la ao trabalho. Falamos mais tarde, ok?
Nesta situação Jorge sente necessidade de avisar José que estava junto da sua casa e responde-lhe com um sms: - Eu estou à tua porta.
Rapidamente vem a resposta de José, via sms, dizendo: - Mas eu tenho que ir a minha casa com a minha mãe. E agora? Que situação!.
Jorge, já ligeiramente abananado com a surpresa por ter descoberto que o independente José, pelo menos em relação à mãe não tinha independência nenhuma, responde, via sms: “Eu estou na praia, neste momento!”
Já na praia, andando contra o sol, Jorge recebe finalmente uma chamada de José. Este muito aflito e atrapalhado dizia: - mas tu não disseste nada!
Jorge replicou dizendo: - Eu tentei, mas tu nunca atendeste!
José respondeu: “Eu não posso estar contigo, estou com a minha mãe, vou às compras com ela e não a posso deixar sozinha”.
Jorge ainda pediu a José para vir ter com ele só um bocado, para receber a prenda que tinha sido comprada para ele com muito carinho.
José voltou a dizer que não podia, que logo Jorge lha daria noutro dia.
Decididamente, Jorge tem que estar triste, porque nem que fosse por cinco minutos, gostava de ter olhado para a cara de José e de lhe ter dito o quanto gostava dele, o quanto pensava nele e o quanto tinha sido importante para si comprar-lhe aquela lembrança.

terça-feira, novembro 07, 2006

Fase Pictórica...




> ABC, Girassóis, acrílico sobre tela, 5 de Novembro de 2006.

Ando um bocado afoito às escritas, porque tenho andado voltado para a pintura, para os rabiscos caseiros com que vou decorando a minha casa.
Goste-se ou não, são meus, do meu suor, e sempre dão um toque pessoal à minha casa.
Da fase floral, por agora suspensa, eis aqui a minha última obra-prima... lol