domingo, dezembro 11, 2005

COMPLEXO INDUSTRIAL DE SENSAÇÕES

O peso da solidão, a auto-estima baixa,
a carência e o excesso de afectos,
a ninfomania, o amor platónico,
o amor com sexo, o amor sem sexo, o sexo sem amor,
a mágoa, a traição, a lealdade, o isolamento,
a bebedeira social, a resignação,
a alegria, a realização,
a negação, a saudade...
Estados de espírito múltiplos
que podem instalar-se num único ser vivo
e alguns em simultâneo.
Que fazer com eles? Como realçar uns e anular os outros?
Como equilibrá-los para ninguém sofrer?

Era uma vez um amigo meu, muito amigo mesmo!
O meu amigo chama-se Tempo! Nasceu não se sabe onde, vive em todos os lados e inunda de controvérsias e certezas tudo e todos, em determinada altura do seu próprio percurso.
Esse meu amigo sentia tudo e muitas vezes não se dava conta de que sentia, pois não queria ver o quanto tinha errado, o quanto continuava a errar, o quanto tinha magoado e o quanto continuava a magoar, sobretudo a si mesmo.
Esse meu amigo não é, certamente, o único que vive em constante conflito interior, não é certamente o único a ter latentes alguns sentimentos de que não se dá conta.
Certo dia, o Tempo encontrou-se com o Espaço, outro filho da mãe que já viveu do melhor e do pior que a Vida pode dar.
A Vida é a jogadora do Mundo, o Mundo é o planeta em que decorrem as acções e vivem os peões Tempo e Espaço.
Como dizia atrás, certo dia o Tempo encontrou-se com o Espaço e disse-lhe.
- Eh, pá, nem imaginas como tenho andado ultimamente!
- Então, o que se passa? - inquiriu Espaço muito cúmplice e verdadeiramente preocupado.
- É a Vida que ultimamente tem posto à prova toda a minha própria existência! - respondeu Tempo com um certo peso no olhar.
- Sabes como ela é, essa Vida! Capaz do melhor e do pior!
- Pois, eu sei bem Espaço. É precisamente assim que me sinto, com o melhor e o pior das sensações em simultâneo.
- Sabes, Tempo, não és só tu que se sente assim, mas também tens que pensar que se assim não fosse não eras humano. O ser humano sente com intensidade todo o tipo de contrariedades e alegrias.
- Eu sei! - respondeu Tempo - Mas o que eu quero é aprender a viver com elas e seleccioná-las muito bem, porque nem todos elas podem existir umas com as outras.
- Isso é fácil!
- Ai sim, diz-me então Espaço, como é que faço para conseguir!
- Descontrai-te, não esperes demais de ti nem dos outros, aceita-te a ti e aos outros com todas as suas forças e fraquezas e reflecte sempre sobre aquilo que jamais gostarias que alguém te fizesse!
- Vou tentar, juro que vou tentar!...
Não é o que fazemos todos, ou pelo menos os que se preocupam muito para além do seu 'próprio umbigo'?

1 comentário:

Guerreiro da Luz disse...

Ah, este complexo industrial de sensações parece que despediram os funcionários todos, foi abandonado ou terá sido atingido por uma bomba... deixou de produzir...
Isso é mesmo uma pena porque o produto final é de excelente qualidade.
Homem escreve, que a gente (blogista do algarve)gosta... e precisamos uns dos outros.