segunda-feira, junho 26, 2006

Maniqueísmos...

Em primeiro lugar, peço desculpa pela intermitência com que escrevo alguma coisa para este blog, embora por outro não tenha que pedir desculpa porque nele sou livre, ou não, porque esperam sempre que escreva alguma coisa. Mas também mais vale não escrever do que escrever por escrever, e umas vezes estou inspirado, outras nem por isso.
E já aqui vão vários opostos, que espero fazer de acordo com o título que arranjei para mais este artigo.
«Maniqueísmos» resulta de uma frase de Baltassare Castiglione que extraí do livro Lucrécia Borgia, biografia da autoria de Geneviève Chastenet, que me encontro a ler.
Rezava assim Baltassare Castiglione:
«A querer fazer desaparecer os vícios, fazemos desaparecer as virtudes».
Esta frase aplicada ao contexto do Renascimento Italiano em que no seio da própria Igreja o respeito pelos dogmas não era acompanhado pela tentação da carne, facilmente pode ser trazida para hoje, e aplicada desde que o Homem existe, revelando a propensão da Humanidade para aceitar tudo, para se completar com o que diríamos de bom e de mau, e sobretudo para valorizar umas coisas em detrimento de outras. Também só havendo contrapontos as coisas fazem sentido, porque só assim as podemos arrumar em categorias qualitativas, só assim podemos discernir entre aquilo que consideramos bonito-feio, grandioso-insignificante, saboroso-azedo, alegre-triste, carnal-espiritual, frontal-hipócrita.
O que seria do bem se não houvesse mal, do criterioso se não houvesse o negligente, do fantástico se não houvesse o factual?
De mim se não existisses tu? De ti, se não estivesse aqui?
De nós se não existissem eles?
Do futuro, se não houvesse um passado?
Da Lucrécia Bórgia, se não houvesse historiadores de tantas épocas que a afamaram e difamaram?
É no oposto que, acredito, muitas vezes nos encontramos a nós próprios, porque é nele que encontramos aquilo que não queremos ou não sabemos ser, mas também muitas vezes aquilo que não somos porque não temos coragem para dar o salto! Que não somos porque somos outra coisa que não aquela...

1 comentário:

Comodoro disse...

Bravo muso, muito bom, muito bonito e ral.
Benvindo de volta à tua escrita, já tinhas saudades.
Continua, que eu cá estarei para lêr e comentar contigo, os teus belos textos, pensamentos e sensações.
Uma vez mais , bravo.