quarta-feira, junho 28, 2006

QUANDO A MORTE NÃO SIGNIFICA MÁ SORTE


Contrariamente aos arrepios e angústias que a carta/lâmina de Tarot representada inspira a quem consulta um tarólogo e esta se lhes depara, a mesma não auspicia a Morte, pelo menos a morte física a que imediatamente temos a tendência de a associar. O nome da carta não existia sequer nos primeiros baralhos de Tarot, sendo simplesmente designada como Arcano sem Nome. Trata-se da carta 13 do conjunto dos 22 arcanos superiores. Talvez seja por esta razão que o próprio número 13 é visto como um sinal de maus augúrios. A palavra Morte só terá aparecido associada à carta nos novos baralhos com tendências ocultistas da Tarologia.
Contrariamente a toda esta fama negativa, ela simboliza precisamente a mudança, a renovação, enfim, uma “morte” necessária para uma nova etapa da vida.
Didier Derlich explica-nos precisamente esta ideia nas seguintes palavras:

O seu simbolismo, um dos mais ricos do Tarot, exprime a omnipotência da vida. E a carta não contém nenhuma negatividade, desde que compreendamos a importância da mudança e da metamorfose, assim como o papel que elas desempenham nas nossas vidas. A mudança causa quase sempre medo. Sabemos o que perdemos, não sabemos o que ganhamos. Sabemos de onde vimos, não sabemos para onde vamos. (Didier Derlich, Guia Prático do Tarot, Pergaminho, p. 150)

Se pararmos para pensar todos os dias nos deparamos com a morte de alguma coisa, todos os dias experimentamos o fim de algo. É precisamente neste espírito que se enquadram as várias formas da morte, seja ela morte episódica, física ou espiritual. Todos os dias nos deitamos e acordamos para um novo dia cheio de possíveis novos desafios, todos os dias pensamos que o presente consumado pode dar lugar a algo que nos surpreende da melhor ou da pior maneira. Todos os dias terminamos coisas que jamais voltamos a empreender. Todos os dias sentimos esperança de mudar alguma coisa nas nossas vidas, ou seja, ansiamos sempre por alguma forma de “morte”.

Para parafrasear e ajudar(-me) a desfazer o irremediável medo que as pessoas têm da morte propriamente dita, não será de pensar que há tantos vivos que parecem mortos e há tantos mortos que permanecem vivos pelas maravilhosas obras que cá deixaram, ajudando à concretização de verdadeiras transformações na vida e na cultura dos seus tempos?!

Termino esta prelecção sobre a péssima tendência que as pessoas (e) eu têm(os) para, por vezes, negativizar(mos) a(s) vida(s) e a(s) morte(s) socorrendo-me de um pequeno texto que encontrei num livro sobre interpretação de sonhos, que vai de encontro ao que o meu primeiro citado deste artigo preconiza sobre uma carta que da morte simplesmente sugere um cadáver em decomposição.

Sonhar que estamos a morrer: quando sonhamos que somos nós que estamos mortos, trata-se de um sonho de muito bom agoiro, pois significa que vamos indeferir uma etapa não muito satisfatória da nossa vida para empreender outra que será mais alegre e benéfica. Esqueceremos recentes mágoas e dissabores, já que perante nós se abre um futuro cheio de êxitos e ganhos. (Grande Dicionário dos Sonhos, Girassol, p.240).
E viva a “morte”, a renovação, a coragem de mudar para melhor.

1 comentário:

Anónimo disse...

Foi o que aconteceu ao extinto Sand Swimming. Teve que morrer para que outros pudessem nascer...