quinta-feira, outubro 12, 2006

Beleza, o que é?


> imagem de http://www.stampede-entertainment.com

Era uma vez um humano lindo que vivia sozinho porque não conseguia, de momento, viver com mais ninguém, obrigando-se a aprender a saber estar por sua conta.
Era outro mais lindo ainda que vivia infeliz porque pensava que estava sozinho no mundo, e isto porque ninguém o desafiava, sequer, para tomar uma cerveja no café do bairro.
Outro belíssimo que passava os dias entretido nas suas coisas para esquecer a solidão que lhe rondava o espírito, mas que dificilmente o conseguia abater, porque ele estava já calejado.
Um que tinha tudo, uma carreira brilhante, amigos lindos como ele, francos, leais e ternos, que vivia desesperado porque pensava que o amor verdadeiro não era para ele.
Outro sex-symbol que se anulava todos os dias, mais e mais, porque com tanta carência, servia de objecto sexual e, depois de satisfeito o prazer da carne, mergulhava numa intensa auto-comiseração.
Um ainda, cheio de charme, que por querer ser aceite socialmente resolveu fazer família mergulhando num ciclo vicioso de hipocrisia e sofrimento.
Outro, inteligente, ex-engatatão, que no meio de tanta alegria casou, procriou e se apagou nas malhas do convencional.
Outro mega-resistente que trabalhava, trabalhava, trabalhava, porque via no trabalho a fonte do esquecimento das suas fraquezas.
Um dandy que se pavoneava e humilhava os outros porque não conseguia sequer olhar para si próprio.

Sonhava por fim, um extraterrestre horrendo, com um mundo onde a partilha, o convívio, a brincadeira colectiva, o amor, o respeito, a coragem, a diferença, o equilíbrio e a humildade seriam os valores da Humanidade.

sábado, outubro 07, 2006

Grita Liberdade



> imagem do site http://prisonersoverseas.com/wp-content/SLAVERY.jpg

Há bem pouco tempo senti-me estranhamente livre e agradavelmente diferente de uma série de pessoas, que estimo não porque tenham muito a ver com a minha maneira de ser, mas porque no passado foram importantes para mim, para o meu crescimento, porque contribuiram para fazer de mim aquilo que eu sou e para descobrir que jamais poderia ser como elas eram, quase que humanos clonados que agem e pensam como se lhes tivesse sido inscrito no âmago um guião de comportamentos, e na pele um guarda-roupa uniforme. Mas o melhor de tudo, é que na mesma ocasião, descobri que havia alguns desses meus amigos que pensaram e se sentiram como eu.

Por tudo isto, e por assentar que nem uma luva, mais uma vez encontrei uma frase nas Memórias de Adriano, da Marguerite Yourcenar, que passo a transcrever:

Prefiro ainda a nossa escravidão de facto a esta servidão do espírito ou da imaginação.
(Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, Ulisseia, 2005, p. 93).

(Re)nascimento


> Leonardo da Vinci, Study of a Womb, c. 1489, in http://www.visi.com/~reuteler/vinci/womb.jpg

O verdadeiro lugar do nascimento é aquele em que, pela primeira vez, se lança um olhar inteligente sobre si mesmo.
(Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, Ulisseia, 2005, p. 34)
Esta frase suscitou a minha atenção e fez-me esboçar um sorriso, porque posso dizer que (re)nasci, aqui, onde vivo, sozinho. Aqui, onde pela primeira vez aprendi a olhar de frente a mim mesmo, onde sem desviar a atenção de mim próprio, me vou conhecendo, desvendando e amando.