domingo, novembro 19, 2006

Surpresa abortada...



> Praia de Altura, tarde de 19 de Novembro de 2006.

Quando uma pessoa pensa que consegue mudar, tornar-se mais dura de coração e deixar de fazer “loucuras” dedicadas ao amor, eis que percebemos que não vale a pena deixar de o fazer, ainda que essas novas loucuras, revestidas do efeito surpresa, abortem por completo, mais e mais uma vez, e que depois de sentirmos a frustração e de nos olharmos ao espelho e nos chamarmos de “burros”, temos a sensação de que não deixaremos de o fazer, porque não é uma questão de burrice, é uma questão de esperança, de acreditar que vale a pena lutar por aquilo em que acreditamos, de acreditar que existem pessoas capazes de dizer “quero ser feliz, e para ser feliz preciso de fazer alguém feliz”, capazes de dizer “quero partilhar a minha vida com uma pessoa”, capazes de assumir que há pessoas que lhes querem bem e de não as esconderem dos pais ou das mães.
Não é uma questão de burrice, é uma questão de vontade de partilhar, de amar, de corajosamente enfrentar este mundo e o outro para ser feliz, doa a quem doer.

Num dia de Outono soalheiro, um amigo meu chamado Jorge, de 32 anos, levantou-se cheio de energia, com o coração a transbordar de paixão e de amor e pensou:
- Já que não vem ele até mim, porque não fazer-lhe uma surpresa?
Tratava-se de fazer mais de uma centena de quilómetros para visitar José, de 34 anos, independente, e o homem que preenchia o coração de Jorge.
Jorge enfiou-se no seu carro e meteu-se à estrada, com intenção de passar pelo Shopping de Faro para comprar uma lembrança a José, uma pequena lembrança mas que aos olhos de Jorge eram a cara de José.
Chegado junto à casa de José, em Altura, Jorge reparou que José não estava em casa e resolveu fazer uma chamada telefónica a José, avisando-o de que estava à sua porta. Jorge sabia que José devia estar a almoçar em casa da mãe, por isso resolveu, já cheio de fome ir a um snack-bar chamado Bela Praia, comer uma sandes mista e uma Pepsi.
Entretanto, enquanto esperava pelo parco almoço, Jorge insiste em ligar a José para o avisar que estava à sua espera, mas José continuava a não atender.
Foi aí que Jorge começou a pensar.
- Ele não me atende porque está com a mãe. Ele tem medo de falar comigo ao pé da mãe.
Mas continuou a afastar esse temor, por mais algum tempo, e lá comeu a sua sandes mista, bebeu a sua Pepsi e rematou com um café cheio, como sempre costuma beber.
Depois de pagar e de se dirigir para o carro voltou a ligar a José e mais uma vez não obteve resposta. Ainda assim, meteu as chaves na ignição e voltou à casa de José com uma ligeira esperança de encontrar o seu carro já estacionado naquela casa de sonho onde tudo tem um significado especial. Mas o carro de José ainda não estava e mais uma vez o telefone tenta avisar José da surpresa que, caso ele atendesse, passaria só a ser meia-surpresa. Mas urgia avisar José para afastar a possibilidade de o mesmo chegar na companhia da mãe.
É então que Jorge recebe uma mensagem sms de José a dizer: - Eu tou com a minha mãe. Fui buscá-la ao trabalho. Falamos mais tarde, ok?
Nesta situação Jorge sente necessidade de avisar José que estava junto da sua casa e responde-lhe com um sms: - Eu estou à tua porta.
Rapidamente vem a resposta de José, via sms, dizendo: - Mas eu tenho que ir a minha casa com a minha mãe. E agora? Que situação!.
Jorge, já ligeiramente abananado com a surpresa por ter descoberto que o independente José, pelo menos em relação à mãe não tinha independência nenhuma, responde, via sms: “Eu estou na praia, neste momento!”
Já na praia, andando contra o sol, Jorge recebe finalmente uma chamada de José. Este muito aflito e atrapalhado dizia: - mas tu não disseste nada!
Jorge replicou dizendo: - Eu tentei, mas tu nunca atendeste!
José respondeu: “Eu não posso estar contigo, estou com a minha mãe, vou às compras com ela e não a posso deixar sozinha”.
Jorge ainda pediu a José para vir ter com ele só um bocado, para receber a prenda que tinha sido comprada para ele com muito carinho.
José voltou a dizer que não podia, que logo Jorge lha daria noutro dia.
Decididamente, Jorge tem que estar triste, porque nem que fosse por cinco minutos, gostava de ter olhado para a cara de José e de lhe ter dito o quanto gostava dele, o quanto pensava nele e o quanto tinha sido importante para si comprar-lhe aquela lembrança.

3 comentários:

Comodoro disse...

Adorei
Força
Escreves tão bem, não sei se me entendes?, continua assim bom, bonito por dentro e por fora e verdadeiro
Um forte abraço e um enorme beijo do teu GRANDE AMIGO E MANO Comodoro

Anónimo disse...

Por essas e por outras fiz o post da lingerie. Acho que ter tomates para viver não é para todos. Modéstia à parte, acho que tivemos sorte em nos conhecermos... E a prova da força que nos move é que ainda somos amigos, e é disso que não te podes esquecer, pois não deixarei de o ser!

Quanto às mães, eles que se f...., mais às mães! Deles e dos filhos e filhas deles! BAH!

Muso disse...

Comodoro: Obrigado pela tua amizade! Podes contar sempre comigo.

Arion: Eu sei bem a amizade que nos une! Por mais desavenças que tenha havido e haja, sei bem o alcance e a intangibilidade da amizade que nos une.