quinta-feira, julho 12, 2007

Custou mas foi...


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Finalmente acabei de ler o livro O Esplendor de Portugal, de António Lobo Antunes. Custou mas foi. Não sei se foi por ter escolhido a hora de deitar para o ler, por estar cansado demais pelo trabalho árduo que tenho tido nos últimos tempos, ou simplesmente porque a saga de escritores a escrever sobre o saudosismo colonialista satura e afirma Portugal como um país com demasiadas saudades do passado e sem qualquer optimismo no futuro, certo é que me custou muito lê-lo. Várias vezes estive para desistir, mas a teimosia venceu, e lá consegui ler as histórias da Isilda, do Carlos, da Clarisse e do Rui, num eterno flashback alternado com o presente, numa busca incessante dos personagens em encontrar-se consigo próprios.
A ironia do Lobo Antunes está presente do princípio ao fim, e quando digo do princípio, digo mesmo do título, porque de esplendor não existe nada nas mágoas, ressentimentos e perdas que o livro ilustra, sentimentos tão próprios de um país dividido entre os que ficaram e os que partiram e regressaram - de África.

Lobo Antunes nega a apresentação de um país no seu esplendor histórico, ideológico e até de coesão nacional, preferindo desmistificar a importância de um passado glorioso à luz de um presente vazio. Nesta opção percebemos que o autor repudia a escolha do povo português em viver um tempo que “consiste num passado obsessivo, num presente sufocado (...) e num futuro do qual, sebasticamente, se espera o dia dos prodígios” (TEIXEIRA: 1998, 158). Ao rejeitar essa mitificação de um tempo expectante na repetição gloriosa da gesta pretérita, Lobo Antunes afirma a sua postura crítica em relação ao país (metonimicamente representado pelas personagens da narrativa), ainda não refeito de uma perda territorial não assumida verdadeiramente.

(
Manuela Duarte Chagas, O Eu ao Espelho do Outro: Portugal Revisitado em O Esplendor de Portugal, http://www.eventos.uevora.pt/comparada/VolumeI/O%20EU%20AO%20ESPELHO%20DO%20OUTRO.pdf)

5 comentários:

Anónimo disse...

Eu, que não suporto a escrita do Lobo Antunes, fico sempre maravilhado quando encontro alguém que o consiga ler. Sei que é um autor cuja poética assenta em premissas, quer de forma, quer de conteúdo, muito válidas, mas não sou capaz... Tiro-te o chapéu!

Muso disse...

Arion: sabes, feitas bem as contas, até nem desgostei do livro, se calhar o peso da história do mesmo é que me fez muitas vezes ter vontade de desistir, face ao cansaço, mas bem analisadas as coisas, o homem (entenda-se Lobo Antunes) tece uma boa crítica ao Portugal que temos, despojado do sentido de devir.

Anónimo disse...

Estou ciente disso tudo. E sei que escreve bem sob o ponto de vista literário (forma, conteúdo, referências, pertinência...), mas não consigo, e tu sabes bem há os anos que me debato com este dilema...

Muso disse...

Arion: oh se sei :)

Comodoro disse...

Tens mais sorte e coragem do que eu, pois nunca consegui acabar nenhum livro dele.
Apesar de ter nascido em África, nunca gostei deste tipo de saudades, nem de paragens no tempo.
Não gosto da escrita dele.